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A Grande Mancha de Lixo do Pacífico criou seu próprio ecossistema: a Plastifera

Cientistas revelam que a GMLP abriga um ecossistema próprio, mas novos estudos indicam que a remoção controlada do plástico pode beneficiar o oceano.

Por Manuela Mourão
11 out 2025, 08h00

No meio do oceano Pacífico, entre a Califórnia e o Havaí, há uma paisagem improvável: uma extensão turva de resíduos humanos, redes de pesca e fragmentos de garrafas plásticas que, vistos do alto, lembram um deserto flutuante. Essa é a Grande Mancha de Lixo do Pacífico (NPGP), uma massa de detritos estimada em 1,6 milhão de quilômetros quadrados – maior que o Peru e o Equador juntos.

Pensar na Grande Mancha de Lixo é garantir imagens automáticas: animais marinhos sufocados no plástico, com algum machucado derivado de garrafas e agarrados em redes de pesca. Durante décadas, acreditou-se que este lugar fosse um cemitério marinho, um símbolo da negligência humana. 

Mas novas pesquisas sugerem algo mais complexo: a mancha se transformou em um novo ecossistema, habitado por criaturas que aprenderam a viver – e prosperar – sobre o plástico. Os cientistas agora chamam esse fenômeno de “plastifera”.

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“Há mais vida lá do que imaginávamos… um ecossistema inteiro bem no meio do lixo”, diz Fiona Chong, bióloga marinha que estuda a região, para a National Public Radio (NPR).

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A pesquisa de Chong, publicada na PLOS Biology, revelou 37 tipos de invertebrados vivendo sobre os detritos, muitos deles espécies costeiras trazidas de lugares distantes, como o Japão. Crustáceos, anêmonas-do-mar e briozoários formam pequenas colônias que se fixam nos pedaços de plástico, alimentando-se de camadas de muco e algas microscópicas que se acumulam ali.

Essas comunidades coexistem com o chamado neuston — organismos que flutuam na superfície do mar, como Porpita (o “botão azul”), Velella (o “navegante do vento”) e Janthina, um pequeno caracol violeta que se sustenta em bolhas de ar. Juntos, eles compõem uma intricada teia alimentar. Predadores como o Glaucus atlanticus, conhecido como “dragão-azul”, caçam os demais, enquanto peixes jovens e tartarugas-do-mar se alimentam desses mesmos organismos.

É um paradoxo, sem dúvidas. O mesmo plástico que ameaça a vida marinha serve de plataforma para novas formas de vida. “É uma pena que nós, humanos, tenhamos impactos tão grandes no oceano que, sabe, nossa pegada seja tão distante”, diz Chong à NPR. “O plástico presente na área pode ser prejudicial para outros organismos marinhos.”

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Nem todos os cientistas enxergam essa colonização como algo positivo. Pesquisas já alertam que espécies “imigrantes” podem desequilibrar os ecossistemas oceânicos, competindo com os habitantes nativos. Em alguns casos, bactérias potencialmente nocivas, como o Vibrio — associado a infecções gastrointestinais — foram encontradas em superfícies plásticas.

Outro estudo, publicado este ano na Scientific Reports, avalia se a limpeza da NPGP traz mais benefícios do que danos ao meio ambiente. Utilizando o projeto The Ocean Cleanup como caso de estudo, os pesquisadores criaram um modelo de avaliação de impacto para medir os efeitos da remoção de plástico sobre a vida marinha e o ciclo de carbono.

Os resultados indicam que os organismos marinhos são mais vulneráveis à poluição plástica do que à própria operação de limpeza: as pontuações médias de vulnerabilidade foram 2,3 para macroplásticos, 1,9 para microplásticos e 1,8 para a limpeza, sugerindo um impacto líquido positivo.

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Uma limpeza de 80% poderia reduzir as concentrações de macroplástico a níveis considerados seguros para mamíferos marinhos e tartarugas. As emissões de carbono associadas à operação (entre 0,4 e 2,9 milhões de toneladas métricas) seriam muito menores que os impactos de longo prazo dos microplásticos sobre a sequestração de carbono oceânica (estimados em 15 – 30 milhões de toneladas de carbono por ano).

Os autores reconhecem, porém, incertezas sobre os efeitos na troca de carbono entre o ar e o mar, e propõem que o novo modelo sirva para avaliar os custos e benefícios ambientais de futuras ações de limpeza oceânica.

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), 14 milhões de toneladas de plástico chegam ao mar a cada ano. Parte desse material é ingerido por peixes e aves, infiltrando-se na cadeia alimentar. 

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Enquanto projetos de limpeza oceânica ganham atenção e investimentos, algumas organizações alertam que essas iniciativas podem mascarar o verdadeiro desafio. A prioridade deveria ser impedir que o plástico chegue ao oceano, e não apenas recolhê-lo depois.

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