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Apocalipse cancelado? Via Láctea talvez escape da colisão com Andrômeda, diz estudo

Novo estudo calculou que a fusão, antes dada como certa, tem só 50% de chances de ocorrer.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 29 ago 2024, 15h35 - Publicado em 29 ago 2024, 14h00

Só uma coisa é certa nessa vida: a morte. Serve para mim, para você, a humanidade, o planeta Terra e até para a nossa galáxia. Em algum momento nos próximos bilhões de anos, a Via Láctea deve colidir com sua vizinha mais próxima, a galáxia de Andrômeda, que fica a 2,5 bilhões de anos-luz. Ou pelo menos era isso que pensávamos até agora – mas talvez a causa mortis e a data do falecimento da nossa galáxia sejam diferentes.

Um novo estudo calculou que a Via Láctea tem 50% de chance de escapar da colisão com a Andrômeda. Até então, o encontro apocalíptico das duas era considerado uma certeza, previsto para ocorrer daqui a 5 bilhões de anos, mais ou menos. Mas a nova projeção, que incluiu mais dados que as anteriores, coloca a conclusão em dúvida.

Encontro de gigantes

Sabemos que Andrômeda se aproxima da nossa galáxia desde 1912, quando o astrônomo Vesto Slipher analisou o comprimento de onda da luz dela, que sofre alterações dependendo do movimento. É o famoso efeito Doppler – que acontece também quando você ouve uma ambulância passando: à medida que ela vai se aproximando, o som vai ficando mais agudo (menor comprimento de onda); quando ela se afasta, mais grave (maior comprimento de onda).

Slipher notou que a luz (que também é uma onda, assim como o som da sirene) emitida pela Andrômeda é mais curta, um fenômeno conhecido como “blueshift” (ou “desvio para azul”), o que significa que ela está se aproximando de nós. 

Desde então, outros estudos fizeram várias projeções e confirmaram essa futura colisão. Hoje, sabemos que a Andrômeda caminha a 110 quilômetros por segundo em nossa direção. 

Num cenário de colisão de galáxias – que já vimos acontecer várias vezes Universo a fora –, a maioria das estrelas até sobrevive ao impacto, já que elas são pequenas em relação às galáxias em si, que são, na sua maior parte, vazias. Mas o processo é caótico, e algumas estrelas podem acabar sendo ejetadas da galáxia, saindo girando pelo vazio. Depois, ao longo dos bilhões de anos, as duas galáxias se fundem numa só, mais estável e do tipo elíptica.

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Apocalipse cancelado?

Embora o comprimento de luz da Andrômeda nos diga, de forma geral, que ela está caminhando em nossa direção, é bem difícil calcular a rota específica da estrutura titânica. Seria possível que ela não batesse de frente com a Via Láctea, passando apenas “de raspão” por nós?

Um novo estudo diz que sim. Pesquisadores da Universidade de Helsinki, na Finlândia, refizeram as simulações usando as mais recentes estimativas de trajetória e de massa de cada galáxia (pesar uma galáxia com precisão também é difícil porque a maior parte da massa está na forma de matéria escura, invisível para nós). E concluíram que não há certeza do encontro dessas gigantes.

Os dados usados nas simulações vêm do telescópio Hubble, lançado em 1990, e do Gaia, lançado em 2013 e operado pela Agência Espacial Europeia (ESA).

O pulo do gato deste estudo foi considerar não só as duas protagonistas da história, como geralmente é feito nesse tipo de projeção. Tanto a Andrômeda quanto a Via Láctea fazem parte do chamado Grupo Local, que reúne mais de 50 galáxias, sendo as duas as maiores do conjunto. Todas essas galáxias, porém, interagem gravitacionalmente entre si, e influenciam seus movimentos.

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Quando os pesquisadores incluíram os dados da Galáxia do Triângulo, a terceira maior do grupo, e da Grande Nuvem de Magalhães, a quarta maior, o resultado mostrou somente 50% de chances da colisão direta ocorrer. 

E, caso realmente ocorra, parece que isso só deve acontecer daqui uns 8 bilhões de anos, mais tarde do que os 5 bilhões inicialmente estimados.

O estudo foi publicado na plataforma arXiv e está em fase de “pré-print”, ou seja, ainda não foi avaliado por outros cientistas nem publicado numa revista científica.

Um dos problemas citados pela equipe é justamente a grande incerteza das informações de massa, velocidade e trajetória das galáxias envolvidas, que geram um cenário altamente especulativo. Ou seja: tudo pode acontecer. Mas o artigo, de qualquer forma, quebra a ideia dominante de que a fusão das duas é inevitável.

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“Até o momento, as afirmações sobre o fim iminente da nossa Galáxia parecem muito exageradas”, escrevem os pesquisadores.

Ainda não é a palavra final. O telescópio Gaia ainda está em operação e deve, no futuro, divulgar novos dados para atualizar as estimativas de massa e velocidade da Via Láctea, o que deverá refinar ainda mais as projeções.

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