Augusto Damineli Neto
Este mês de férias oferece excelente oportunidade para se acompanhar o fluxo e refluxo das marés, cujos efeitos Astronômicos são maiores do que se pode pensar. Ponha de lado seu ar de “doutor” e adote um caiçara como professor. Sem olhar para o mar, ele é capaz de dizer como está a maré porque aprendeu que a maré de ontem se repete hoje, com uma hora de atraso. Se a memória falhar, ele recorre à Lua (ver Nascer e ocaso da Lua, ao lado). A maré é formada por duas montanhas de água que se acumulam na linha imaginária que liga o centro da Terra ao da Lua. A água escoa das regiões que estão a 90 graus dessa linha – onde produz marés baixas. Assim, quando a maré está alta no Brasil, também está alta no Japão e baixa na Ilha de Madagáscar e na costa oeste dos Estados Unidos.
A atração gravitacional da Lua é mais forte sobre a face da Terra voltada para ela (Lua) e mais fraca na face oposta da Terra, mais distante. Por causa dessa diferença, tudo se passa como num cabo-de-guerra: as forças que agem em cada face tendem a esticar o planeta e dar-lhe a forma de uma bola de rúgbi. A água, por ser líquida, cede à tensão. O mais curioso é que o pico da maré não coincide com o momento de máxima altura da Lua no céu, mas quase uma hora mais tarde. Isso se deve a que a rotação da Terra arrasta a protuberância da maré na direção do leste.
A Lua reage, tentando realinhar as protuberâncias. Com isso, ela gasta energia, ou seja, perde movimento. O resultado é o freamento de sua rotação e seu afastamento da Terra a uma taxa de 3 metros por século. A Terra divide com ela as perdas, de modo que o dia se alonga de 1 hora a cada 130 milhões de anos. Essas informações deixariam o leitor em vantagem com relação ao caiçara – se não existissem outras particularidades, como a ressonância nas baías e a ação do vento, que modificam o horário e a altura das marés. São detalhes importantes que só a experiência do caiçara permite avaliar.