Astrônomos revelam o mapa 3D mais detalhado da Via Láctea
O atlas, que conta com mais de 1,8 bilhão de estrelas, pode trazer pistas sobre a formação do Sistema Solar e a taxa de expansão do Universo.
Nesta quinta-feira (3), astrônomos da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, revelaram o mapa 3D mais detalhado já feito da Via Láctea. O atlas tem como base dados obtidos pelo observatório Gaia da Estação Espacial Internacional (ESA), que tem coletado imagens do espaço desde seu lançamento, em 2013.
A missão Gaia conta com dois satélites localizados a quase 1,5 milhão de quilômetros da Terra, que têm como objetivo fotografar os objetos estelares de toda a galáxia. Eles seguem sua órbita em um dos Pontos de Lagrange, regiões estáveis do Sistema Solar em que a gravidade dos corpos celestes se cancela. Dessa forma, os objetos ficam numa boa e economizam combustível. O Telescópio Espacial James Webb, previsto para ser lançado em 2021, por exemplo, ficará num desses pontos, o L2.
As câmeras embutidas nos satélites são as maiores e mais poderosas já instaladas no espaço, capazes de medir o diâmetro de um fio de cabelo a mil quilômetros de distância – haja precisão. Elas devem verificar posição, velocidade, brilho, magnitude e cor das estrelas.
As informações utilizadas para construir o mapa 3D foram retiradas do terceiro relatório divulgado pela missão, o Gaia EDR3. Ele traz informações sobre a posição e velocidade de 1,8 bilhão de estrelas, além de apontar a cor de 1,5 bilhão destas fontes luminosas. O Gaia DR2, publicado em 2018, trazia 100 milhões de estrelas a menos e um déficit de 200 milhões nos dados de cores. O novo documento também ganhou pontos em relação a precisão das medições.
O mapa detalhado permite aos cientistas medir a aceleração do Sistema Solar em relação ao restante do Universo. De acordo com os pesquisadores, a velocidade se altera em 0,23 nanômetros por segundo a cada segundo. Essa leve aceleração implica em uma mudança na trajetória, que passa a ser desviada para o centro da Via Láctea em sete milímetros por segundo. Ao longo de um ano, isso representa cerca de 115 quilômetros de distanciamento do seu ponto anterior. Os pesquisadores explicam que essa é a primeira medição da curvatura da órbita do Sistema Solar em torno da galáxia na história da astronomia óptica.
Com as novas informações, é possível medir ainda a massa da galáxia. Tendo estes dados, é possível expandir pesquisas e elucidar questões sobre a formação do Sistema Solar e também sobre a taxa em que o Universo se expandiu e vem se expandindo desde o seu início.
Os pesquisadores também olharam para as estrelas velhas e jovens que ficam nas bordas da Via Láctea. Com isso, foi possível “enxergar” como a nossa galáxia era há dez bilhões de anos e comparar seu tamanho anterior com a sua extensão atual. As mudanças são perceptíveis pois, à medida que a galáxia cresce, as novas estrelas nascem.
Os dados mostram ainda um quase acidente que pode ter ocorrido entre a Via Láctea e a galáxia Anã de Sagitário. Nas bordas de nossa galáxia, há algumas estrelas que estão acima do plano e se movem para baixo, enquanto outras, que estão abaixo, se movem para cima. Isso pode ter sido resultado de uma aproximação entre as duas galáxias. Apesar de não terem se chocado, foi o suficiente para que a gravidade da Anã de Sagitário perturbasse algumas de nossas estrelas. Este encontro parece ter acontecido em algum momento entre 300 e 900 milhões de anos atrás.