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Bebês reconhecem cantigas de ninar que ouviram durante a gestação

Os cérebros dos bebezinhos faziam mais esforço quando eles escutavam uma canção pela primeira vez, enquanto as familiares eram mais fáceis de acompanhar.

Por Leo Caparroz
8 abr 2024, 19h02

Ainda na barriga da mãe, os bebês conseguem escutar o que está acontecendo no mundo. Nas primeiras 18 semanas de gravidez, o neném consegue ouvir o batimento cardíaco da mãe. Passados 6 a 7 meses, ele consegue distinguir alguns sons exteriores ao útero. Perto do momento do parto, sua audição já funciona plenamente.

A aprendizagem de línguas provavelmente começa por aí, antes do nascimento. Pesquisas mostram que os recém-nascidos já conseguem distinguir a voz da mãe da de um estranho, e discernir sua língua nativa de uma estrangeira com base no ritmo da fala.

Além disso, uma nova pesquisa mostra que os bebês conseguem reconhecer cantigas que ouviram na barriga da mãe, distinguindo o ritmo e outros sons de uma canção desconhecida.

O novo estudo é uma sequência de uma pesquisa de 2013, que sugeriu que recém-nascidos de até 4 meses poderiam reconhecer a música “Brilha brilha, estrelinha” se tivessem escutado ela ainda no útero. Contudo, esse estudo não deixou claro se os bebês se lembravam da melodia, da letra, do ritmo ou de uma combinação dos três.

Pensando em esclarecer essa questão, um novo grupo de pesquisadores recrutou 60 gestantes e pediu que elas tocassem gravações de canções de ninar em seu abdômen, duas vezes por dia, a partir da 34° semana de gravidez.

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Metade das mulheres tocou a canção Es tanzt ein Biba Butzeman, a outra metade, a canção Es war eine Mutter. O estudo foi feito pela Universidade de Salzburgo, na Áustria, por isso as músicas são em alemão – nada de Ciranda, cirandinha.

Ambas as gravações não tinham melodia, as palavras eram faladas na cadência da música. Os pesquisadores também criaram outras três versões da cantiga, modificadas. Uma com os sons agudos filtrados, outra com o ritmo modificado e outra com a voz de trás para frente, completamente ininteligível.

Duas semanas depois do parto, os pesquisadores tocaram as duas canções de ninar para os bebês enquanto usavam a eletroencefalografia para medir a atividade elétrica em seus cérebros. Isso indicaria se eles estavam familiarizados com as rimas e com que facilidade conseguiam prestar atenção nelas. Os pequenos primeiro ouviram tanto a música que lhes foi tocada na barriga, quanto a versão normal da música do outro grupo.

O estudo, que ainda não passou por revisão de pares, está em pré-publicação. 

A equipe descobriu que as versões originais das cantigas familiares pareciam mais fáceis de serem seguidas pelos bebês. Por outro lado, as desconhecidas provocaram uma resposta de atividade elétrica mais forte, sugerindo que os nenéns fizeram mais esforço cognitivo ao ouvi-las.

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Os pesquisadores também tocaram as canções alteradas, que eram ainda mais difíceis para os bebês acompanharem. Isso quer dizer que os pequenos conseguiam diferenciar as gravações, e que não reconheciam apenas as melodias cantadas.

Os pesquisadores ainda acompanharam os bebês até os 6 meses de idade. Eles descobriram que, aqueles que acompanharam melhor as cantigas com 2 semanas de idade, também tinham habilidades de linguagem melhor desenvolvidas. 

Segundo os pesquisadores, investigações mais aprofundadas poderiam ajudar profissionais de saúde a reconhecer crianças suscetíveis a problemas de desenvolvimento da linguagem.

“É muito difícil avaliar de forma confiável o desenvolvimento da linguagem de uma criança pré-verbal e, com um recém-nascido, é praticamente impossível. Mas os métodos de rastreamento neural poderiam avaliar as crianças desde o nascimento, fazer um prognóstico ou ajudar na recomendação de terapias”, defende Cristina Florea, uma das autoras do estudo. “Ainda não chegamos lá, mas esta correlação com o desenvolvimento posterior é o primeiro passo.”

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