Bem-vindo, sr. morcego
Cidades da Itália constroem morcegódromos para combater a proliferação de insetos
Cristine Gerk
Esqueça os repelentes, as telas e as raquetes de choque elétrico. A melhor solução para acabar com os surtos de mosquitos e pernilongos no verão pode ser outra: morcegos. Várias cidades italianas começaram a construir casinhas para morcegos, com o objetivo de atrair esses animais – que são exímios comedores de mosquitos. A ideia surgiu em 2006 na cidade de Fiesole, na região da Toscana, e ganhou adesões em todo o país. As casinhas são feitas de madeira, medem 66 x 40 centímetros e têm uma espécie de poleiro dentro – para que os morcegos possam ficar pendurados de cabeça para baixo. A iniciativa tem dado certo: mais de 8 mil casinhas já foram instaladas, e a Universidade de Florença criou até um projeto, o “Morcego Amigo”, para incentivar a prática. “Eles desempenham um papel importante no controle de insetos, pois alguns podem consumir mais de 1 000 mosquitos por hora”, diz Ricardo Moratelli, presidente da Sociedade Brasileira para o Estudo de Quirópteros da Fundação Oswaldo Cruz.
Mas não é perigoso incentivar a presença de morcegos em áreas urbanas? Afinal, eles podem transmitir doenças como raiva e histoplasmose. “Os ataques a seres humanos são raros”, pondera Moratelli. Além disso, as casinhas são instaladas em árvores ou do lado de fora dos prédios, a 4 metros de altura – fora do alcance das pessoas. “É perfeitamente seguro. Basta não enfiar a mão lá dentro”, afirma o zoólogo Felipe de Mello Martins, da USP. “Os morcegos são associados a mitos e medos sem sentido”, acredita Merlin Tuttle, doutor em biologia pela Universidade de Kansas e presidente da Bat Conservation International, ong que visa à proteção desse animal. Mas que ele assusta, assusta.