Cientistas descobrem como evitar “apocalipse das bananas”
A fruta mais consumida do mundo está ameaçada por um surto global de um fungo. Agora, um novo estudo encontrou uma estratégia para controlar o patógeno.
O “apocalipse das bananas” já chegou, e até recentemente parecia não haver muita coisa que pudéssemos fazer a respeito. Isso porque a fruta está ameaçada de extinção funcional devido a uma doença chamada murcha de Fusarium oumal-do-Panamá, causada pelo fungo Fusarium oxysporum, que mata as árvores ao se infiltrar em seu sistema vascular. A Super já explicou essa história aqui.
Mas, agora, há uma luz no fim do túnel: uma nova pesquisa, conduzida por uma equipe internacional de cientistas, revelou descobertas que podem virar o jogo. Pesquisadores descobriram um substância produzida pelo fungo que parece ser central no processo de infecção das bananeiras, abrindo portas para novas estratégias de mitigação do problema.
Extinção das bananas?!?
A banana que comemos hoje em dia não é a mesma que nossos avós comiam. Aquelas bananas, conhecidas como Gros Michel, estão praticamente extintas devido ao primeiro surto de Fusarium nos anos 1950, explica Li-Jun Ma, principal autora do estudo.
Hoje, a banana Cavendish é a variedade mais comum no mercado, desenvolvida justamente como uma resposta à doença que dizimou as Gros Michel. Durante cerca de 40 anos, a Cavendish (que no Brasil chamamos de nanica) prosperou nas vastas plantações que abastecem a maior parte do mercado global por ser resistente à cepa original do fungo. Em 1990, porém, esse cenário começou a mudar.
“Outro surto de murcha de Fusarium surgiu e se espalhou como incêndio descontrolado, do Sudeste Asiático à África e América Central”, relata Yong Zhang, outro autor da pesquisa. O Foc TR4, fungo responsável pela ameaça atual, não evoluiu da mesma cepa que dizimou as plantações na década de 1950.
Contudo, ainda há esperança, segundo os pesquisadores. A virulência desse novo fungo parece ter ligação a genes associados à produção de óxido nítrico. Esse gás é tóxico para a planta e enfraquece o sistema de defesa da árvore, facilitando a infecção do fungo. Essa descoberta, publicada na Nature Microbiology, abre caminho para o desenvolvimento de tratamentos e estratégias que podem, salvar a fruta – ou, pelo menos, desacelerar a propagação ainda incontrolável desse inimigo.
A equipe, formada por pesquisadores da China, África do Sul e dos EUA, sequenciou e comparou 36 diferentes cepas do fungo coletadas ao redor do mundo, incluindo aquelas que atacam as bananas Gros Michel. Com apoio da Universidade de Massachusetts Amherst, os cientistas descobriram que o Foc TR4 tem alguns genes que regulam a produção de óxido nítrico fúngico, que participa do processo de invasão do hospedeiro. O fungo também possui genes que protegem ele mesmo da substância tóxica.
Embora os pesquisadores ainda não compreendam exatamente os detalhes de como essas atividades contribuem para a infestação nas bananas Cavendish, eles observaram que a virulência do TR4 foi significativamente reduzida quando dois genes que controlam a produção de óxido nítrico foram eliminados. Isso sugere que o processo de produção dessa substância pode ser o alvo principal para criar novas estratégias de mitigação, ou até mesmo eliminação, do fungo.
Não é só isso
Ainda há um problema maior: a prática de monoculturas.
Ao analisarem a disseminação global dessa nova versão do Fusarium oxysporum, os cientistas perceberam que uma das principais causas para o recente ressurgimento dessa infecção fúngica é o domínio da indústria internacional de bananas a partir de um único clone.
Todas as bananas são geneticamente iguais, o que significa que são igualmente suscetíveis à patógenos. Essa é uma desvantagem claro da falta de diversidade genética de uma população, é claro.
O cultivo de diferentes variedades da fruta pode tornar a agricultura mais sustentável e diminuir a pressão de doenças sobre uma única cultura. Agricultores e pesquisadores podem controlar a doença identificando ou desenvolvendo variedades que sejam tolerantes ou resistentes ao TR4.
Li-Jun Ma explica: “Quando não há diversidade em uma grande plantação comercial, ela se torna um alvo fácil para os patógenos.”
Uma outra solução mapeada pelo novo estudo seria projetar maneiras de eliminar o óxido nítrico, reduzindo a pressão tóxica causada pela liberação dele.
Então, da próxima vez que você for às compras, por que não experimentar diferentes variedades de banana que possam estar disponíveis em lojas especializadas? Essa simples escolha pode incentivar a produção de tipos diferentes e ajudar a preservar a fruta mais consumida do mundo.