Como a fibra óptica de internet pode ajudar a monitorar baleias
O mesmo método usado para observar a integridade dos cabos pode "escutar" o canto das baleias – e ajudar na preservação
Cabos de fibra óptica submarinos estão sendo usados para algo além do tráfego de internet. Através deles, cientistas estão “espionando” baleias no Ártico. Eles acreditam que estudos como esse podem renovar a maneira como se coletam dados sobre a vida marinha e, possivelmente, aprimorar esforços de preservação.
Utilizando uma técnica normalmente destinada a monitorar os próprios cabos, os pesquisadores passaram a acompanhar a atividade dos mamíferos. É a primeira vez que vida selvagem é monitorada dessa forma, denominada “sensoriamento acústico distribuído”.
Ela já era usada para verificar a integridade dos cabos submarinos e alertar empresas sobre possíveis falhas. A fibra do cabo fica conectada a um interrogador: um equipamento que envia pulsos de luz para a fibra em intervalos regulares. Sons ou vibrações podem interromper os pulsos que passam por ele e, observando as mudanças na luz que chega de outro interrogador, os pesquisadores podem determinar o que está acontecendo perto do cabo – uma perturbação qualquer, causada pela queda de uma âncora ou o canto de uma baleia.
Coletar dados sobre as baleias podem ajudar a entender mais sobre as diferentes espécies, especialmente as do Ártico, o local de estudo desta pesquisa. Mesmo sendo um dos maiores animais do planeta, os pesquisadores têm dificuldade em colher informações suficientes sobre algumas espécies de baleias, e não conseguem precisar seu grau de ameaça de extinção.
Usando os cabos de fibra óptica, os pesquisadores puderam, por exemplo, descobrir quando as baleias migravam. Ao lado de dados sobre o tráfego de navios, essa informação poderia ajudar a descobrir se elas correm maior risco de colisões com barcos ou de serem capturadas em equipamentos de pesca.
“Espero que possamos explorar a ideia de que, já que podemos receber os dados em tempo real, poderíamos lidar com eles em tempo real”, conta Léa Bouffaut, uma das autoras do estudo. “Acredito que pode ser útil para a comunidade de bioacústica porque há muitos problemas de conservação que exigem monitoramento em tempo real.”