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Como peixes de mentira (e você) podem salvar recifes de coral

Usando IA, pesquisadores querem recriar sons de peixinhos para recuperar esses ecossistemas. E você pode ajudá-los (sem sair de casa).

Por Caio César Pereira
Atualizado em 27 dez 2023, 18h24 - Publicado em 27 dez 2023, 18h01

Os recifes de coral desempenham um importante papel para o equilíbrio do ecossistema marinho. Para você ter uma ideia, 32% das formas de vida aquáticas já catalogadas vivem dentro ou próximas a eles.

Não só: os recifes também protegem a região costeira contra tempestades, além de servirem de matéria-prima para novos medicamentosAo mesmo tempo, porém, são um dos ecossistemas mais ameaçados pelas alterações climáticas.

O aumento da temperatura nos oceanos mata as zooxantelas, algas com as quais os corais possuem uma relação simbiótica: os corais fornecem abrigo, nutrientes e CO2 para as algas, que devolvem mais nutrientes ao seu hospedeiro ao realizarem fotossíntese.

Sem as zooxantelas, os corais embranquecem, já que com as algas são responsáveis pela sua pigmentação, e podem morrer devido à falta de nutrientes. Pelo menos 14% dos corais de todo o mundo foram perdidos na última década, segundo um relatório de 2021.

E as coisas podem piorar: o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (o IPCC) estima que até 90% dos recifes de corais de todo o planeta podem desaparecer até 2050 com um aumento de 1,5 ºC na temperatura global.

Diante desse cenário, são várias as pesquisas para tentar proteger esse ecossistema. E uma delas envolve passar a perna em alguns peixes. Mas com a melhor das intenções. Vamos explicar.

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Uma das formas conhecidas para a restauração de corais danificados é aumentar a população de peixes no local. Os novos inquilinos trazem consigo nutrientes de outras regiões (e que, via fezes, ajudam a “adubar” o coral debilitado).

Peixes são do tipo que seguem outros peixes para conseguir comida. Um verdadeiro exemplo do efeito manada (ou, no caso deles, efeito cardume, rs). Para isso, costumam seguir o som de outros indivíduos.

O problema é que o branqueamento ou dano nos corais afasta os peixes, fazendo com que outros não se aproximem. É um efeito dominó, que transforma o recife num deserto. 

Para solucionar isso, pesquisadores começaram a utilizar técnicas de inteligência artificial para estudar o som de certas espécies de peixe. Por meio do aprendizado de máquina (“machine learning”), eles treinaram um programa com uma quantidade imensa de dados para que o software conseguisse detectar e reproduzir padrões. No caso, reproduzir os barulhos para atrair animais para os corais.

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Uma equipe liderada por Ben Williams, biólogo marinho da University College London (e um dos autores do estudo) foi até a Indonésia estudar quatro diferentes tipos de corais: saudáveis, degradados, restaurados e recém-restaurados.

A cobertura vegetal dos corais varia dependendo do seu grau de degradação, e isso também afeta o som dos animais que vivem ali. Para detectar essas diferenças, a equipe treinou a IA com sons desses quatro locais. E deu certo: a taxa de acerto na identificação de cada recife foi de 92%.

O próximo passo agora é filtrar o sons desses peixes para depois aplicá-los nos corais, para assim, atrair outros peixes. Mas há um problema aí.

Ajude um pesquisador

Imagine que você precisa obter a voz de uma pessoa que está na arquibancada de um Corinthians x Palmeiras. O barulho é tanto (e vindo de diversas fontes) que é quase impossível conseguir detectar (e isolar) um único torcedor em meio ao caos.

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No estudo dos corais, o raciocínio é quase o mesmo. Para as máquinas conseguirem replicar o som específico de cada peixe, é preciso primeiro filtrar esse barulho de todos os outros captados. Os pesquisadores possuem centenas de horas de áudio, mas poucas pessoas para examiná-los.

Felizmente, você pode ser uma delas.

O Google criou uma ferramenta que permite que qualquer um com internet consiga ouvir esses corais e ajudar na identificação dos sons dos peixes. Caso queira contribuir para salvar a Fenda do Bikini do Bob Esponja, a Grande Barreira de Corais do Nemo e tantos outros ecossistemas marinhos por aí, basta acessar esse link aqui.

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