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Descoberta nova bactéria que causa doença misteriosa e fatal em chimpanzés

Por 15 anos, chimpanzés morriam rapidamente de uma síndrome desconhecida em um santuário em Serra Leoa. Agora, cientistas finalmente sabem o porquê – e acendem um alerta sobre o surgimento de novos patógenos entre animais e humanos.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 10 fev 2021, 18h09 - Publicado em 10 fev 2021, 17h38

Em 2005, alguns chimpanzés do santuário de vida selvagem Tacugama, em Serra Leoa, África, começaram a morrer de uma doença misteriosa. Eles ficavam tontos, tinham convulsões, começavam a vomitar e paravam de comer. A progressão do quadro era rápida: às vezes, os macacos morriam do dia para a noite, sem que os cuidadores sequer notassem que eles estavam doentes.

Surtos dessa misteriosa doença continuaram a aparecer nos últimos 15 anos – sem que nunca tivesse sido descrita pelos cientistas dos santuários. Buscas por patógenos como vírus, protozoários ou outros agentes infecciosos e parasitas terminaram sem resposta, assim como a hipótese de que alguma planta venenosa pudesse estar sendo ingerida pelos bichos. Desde o primeiro caso, 56 chimpanzés-do-oeste-africano (Pan troglodytes verus) já morreram dessa síndrome misteriosa – nenhum dos doentes se curou, o que corresponde a uma taxa de letalidade de 100%.

Agora, porém, um novo estudo pode ter descoberto o responsável. Cientistas da Universidade de Wisconsin–Madison, nos EUA, foram convidados em 2016 para estudar o fenômeno de perto e recentemente publicaram seus resultados na revista Nature Communications. Analisando amostras de tecidos dos chimpanzés, eles encontraram um número alto de bactérias do gênero Sarcina nunca vistas antes na microbiota dos que morreram; alguns também apresentavam a bactéria em seus fígados, baços e cérebros. Em comparação, amostras dos chimpanzés saudáveis não tinham a bactéria.

O grupo das bactérias Sarcina inclui outras representantes, que são inofensivas e podem ser encontradas em solos. O parente mais próximo da nova integrante encontrada nos chimpanzés, porém, é a Sarcina ventriculi, que, em casos bastante raros, pode causar doenças gastrointestinais em humanos. A nova bactéria encontrada no santuário dos macacos não infectou os veterinários e os cuidadores até agora, mas pesquisadores temem que exista a possibilidade dela pular dos chimpanzés para humanos – algo que não é incomum quando se trata de patógenos.

Mas a preocupação maior é impedir que ela infecte mais chimpanzés. Sequenciando o genoma da nova bactéria, os cientistas encontraram alguns genes que podem estar ligados a uma maior capacidade de infecção e também a uma maior resistência à antibióticos, o que pode explicar porque a síndrome não respondia aos tratamentos testados pelos veterinários nos últimos 15 anos.

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O novo estudo, porém, pode começar a mudar o cenário. Com a descoberta do gênero da bactéria, os veterinários podem escolher tratamentos melhores e mais direcionados contra ela. Como a Sarcina reside principalmente no intestino, os veterinários utilizam probióticos e antibióticos específicos para os chimpanzés doentes, além de cuidados de suporte para ajudar a combater a infecção.

No mês passado, um chimpanzé foi infectado e começou a ser tratado sob esse novo protocolo – e parece estar dando certo. “Ele está totalmente bem e está sendo monitorado ”, disse em comunicado a diretora do santuário, Andrea Pizzaro. “Ele tinha convulsões e vômitos e não era capaz de nos reconhecer e nem conseguia andar, mas agora temos um chimpanzé que é totalmente normal.”

O santuário atualmente conta com cerca de 100 chimpanzés, a maioria resgatados da rede de tráfico ilegal, e é uma referência internacional na conservação dessa espécie, que está altamente ameaçada de extinção. Os resultados da nova investigação também foram compartilhados com outros santuários ligados à Pan African Sanctuary Alliance, uma associação dessas instituições no continente africano, para evitar novos possíveis surtos da doença.

Ainda há muito a responder, porém; não se sabe exatamente como acontece a infecção – tudo indica que a doença não é transmissível entre os animais, o que sugere que todos se infectam diretamente da natureza (como através da comida, por exemplo). Amostras de ar, água e vegetação do santuário serão testadas em busca dessa resposta. Outro ponto que deve continuar é o monitoramento das bactérias do gênero Sarcina, por muito tempo ignoradas pelos cientistas.

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