Descoberto fóssil quase completo de “leão marsupial” extinto
O Thylacoleo carnifex ocupava a posição de um leão na cadeia alimentar. Mas com uma bolsa de canguru. Conheça mais esse easter egg australiano extinto.
Ornitorrincos, coalas comedores de veneno, falcões vândalos e incendiários, um canguru musculoso chamado Roger, uma água viva com toxina suficiente para matar 60 pessoas e uma cobra que cobre o recorde e leva 100 com uma dentada só.
A Austrália não é para biólogos iniciantes – 30 milhões de anos de isolamento geográfico transformaram o misto de ilha e continente em um parque de diversões darwinista. 85% das plantas com flores, 84% dos mamíferos, 45% das aves e 89% dos peixes costeiros que existem lá só existem lá – e em mais lugar nenhum.
A lista acaba de ganhar mais um membro. Ainda que emérito. Rod Wells, especialista em vombates da Universidade Flinders, montou o primeiro esqueleto completo de um marsupial carnívoro de nome científico Thylacoleo carnifex, que foi extinto há 30 mil anos – muito, muito tempo antes da chegada dos primeiros naturalistas europeus, no século 18.
Na verdade, uma hipótese bem aceita é que ele tenha desaparecido graças às mudanças de habitat impostas pela chegada dos primeiros seres humanos à Austrália, há cerca de 40 mil anos.
O animal, com 1,5 m de comprimento e mais de 100 kg, tinha todas as características exóticas dos marsupiais contemporâneos. A principal delas, uma bolsa abdominal para carregar os filhotes – que nascem com a aparência de um feto, de tão prematuros. É a bolsa, inclusive, que dá nome ao grupo: “marsúpio” vem do grego mársippos, que significa “bolsa”.
Apesar disso, ele não se parecia em nada com o canguru – um herbívoro razoavelmente pacífico. Era mais próximo do famoso diabo-da-Tasmânia, o carnívoro pequeno e nervosinho que inspirou o personagem Taz. O carnifex era um caçador barra-pesada, no topo da cadeia alimentar. Atarracado feito um buldogue, tinha mandíbula forte e garras retráteis.
Embora sua anatomia não fosse boa para correr – uma das principais descobertas de Wells é que a coluna lombar do bicho era pouco flexível –, ele provavelmente era bom em armar emboscadas, subir em árvores e capturar animais maiores. Seu rabo, espesso e forte, era usado para formar um tripé com as patas traseiras, que o ajudava a se equilibrar ao estilo bípede quando os membros anteriores estavam sendo usados para outras funções.
O carnifex foi descrito pela primeira vez em 1859 pelo famoso naturalista britânico Richard Owen, graças a um crânio e fragmentos de mandíbula encontrados no lago Colongulac, na província de Vitória, no sul da Austrália. Ele o descreveu como “uma das mais temíveis e destrutivas das bestas predatórias”.
O nome científico Thylacoleo reflete a descrição: é uma espécie de trocadilho entre o grego thylakos, que também significa “bolsa” ou “saco”, e leo, que significa, naturalmente, “leão”. Ou seja: leão com saco.
Bem-vindo então, leão com saco, ao hall de esquisitices australianas. Qualquer dia a gente te vê no museu.