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Desvendando o polvo gigante. Metendo as mãos pelos pés

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h32 - Publicado em 31 jan 1996, 22h00

Lúcia Helena de Oliveira

O biólogo canadense Jim Cosgrove mergulhou nas águas do Pacífico jogando uma substância irritante sobre os recifes, nos quais se esconde o polvo gigante. Esse animal é dificílimo de ser flagrado. Mas, sem respirar direito, ele apareceu. Depois houve uma longa negociação: o bicho ficou meia hora apalpando o estranho, até se sentir seguro. Só então topou fazer esta e outras poses, que você verá a seguir.

Uma tremenda necessidade de oxigênio

Desde 1983, o biólogo Jim Cosgrove aproveita os horários em que não está trabalhando no Museu da Columbia Britânica, no Canadá, para se dedicar a seu tema predileto: os polvos gigantes do Pacífico (Octopus dofleini). “Esses moluscos da família dos cefalópodes – a mesma das lulas – ainda não são bem conhecidos”, diz ele à SUPER. No ano passado, sua equipe de seis cientistas independentes questionou a antiga tese de que esses animais caçam à noite. Mergulhando duas vezes vezes por semana para ver os bichos de perto, eles garantem: os gigantes do Pacífico caçam a qualquer hora do dia.

“A pesca não prejudicou a população desses polvos”, afirma Cosgrove. O perigo é a poluição, caso ela aumente. Pois eles têm uma enorme demanda de oxigênio: “O homem só usa 7% do gás que chega aos pulmões. Já os moluscos aproveitam 98% do oxigênio que extraem da água”, compara o cientista. “É óbvio então que qualquer mudança no meio aquático terá grande impacto na sua existência.” A necessidade de oxigênio também explica o tamanho dos habitantes do Pacífico: nas águas geladas, em que a concentração do gás é maior, os polvos conseguem alcançar 80 quilos e ter em média 7 metros de comprimento. Nos lugares de temperatura alta, como o Brasil, em que o oxigênio é mais escasso, eles só têm fôlego para crescer alguns centímetros.

Muda de cor para se comunicar

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A fama de mau começou com os antigos gregos, no século III a.C., que espalharam o mito de um polvo gigante capaz de virar barcos e esmagar homens com seus tentáculos. Puro boato. Em geral, o polvo gosta é de paz. Não briga nem por uma bela fêmea. Na hora de procriar, se existe uma única parceira receptiva na área, os machos fazem um acordo de cavalheiros. Ou melhor, fazem fila. O maior, na frente. A cerca de um metro deste, o segundo fica à espera. O menor de todos se coloca a uns três metros de distância. Eventualmente, surge um quarto candidato, mas logo desiste. Percebe, por instinto, que até chegar a sua vez terão se passado quatro dias e a fêmea já não estará tão disposta ao sexo.

Caseiro, o molusco escolhe uma brecha nos recifes para morar e não costuma trocar de endereço sem um bom motivo. Geralmente, só sai de um lugar porque cresceu e não cabe mais ali. Confusão mesmo, só arruma quando outro polvo quer viver no mesmo canto. Então, o maior pode engolir o menor. Não é, contudo, um comportamento muito comum. “Mais do que atacar, essa espécie é especializada em se defender” diz Cosgrove.

Nuvem negra

A astúcia faz com que os polvos não percam tempo diante de um inimigo. Apesar de serem surdos, como todos os membros da família cefalópode, eles enxergam com impressionante nitidez. Seus olhos possuem 50 000 receptores de luz por milímetro quadrado, o que lhes dá uma visão melhor do que a humana, porque eles vêem até no escuro. Os adversários também são reconhecidos pelo olfato.

As pontas dos oito tentáculos funcionam como narizes, com células especializadas em captar odores. Provavelmente, o bicho percebe pelo cheiro que o outro animal está liberando hormônios relacionados ao comportamento agressivo. Ou seja, pretende atacá-lo. Então, lança uma tinta escura e viscosa para despistar o agressor. E escapa numa velocidade impressionante para um animal aquático (veja infográfico abaixo).

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Raramente o agressor consegue ser mais rápido. Se isso acontece, e o polvo é atacado, prefere deixar um de seus tentáculos entre os dentes do adversário e fugir. Um novo tentáculo tende a nascer no lugar ferido. A principal tática de defesa, no entanto, é o mimetismo. Em menos de trinta segundos, ele é capaz de mudar completamente de cor, ficando da mesma tonalidade da areia ou de uma pedra. O que mais fascina os cientistas é que o bicho também usa as cores para se comunicar. Tons berrantes funcionam como um aviso para outros polvos de que há um predador nas redondezas. Já manchas rosadas são sinal de amor.

Bomba hidráulica

A água que entra na cavidade desse órgão cilíndrico, chamado sifão, é arremessada graças às contrações dos músculos ao redor. São os jatos fortes e contínuos que impulsionam o bicho a se locomover

Olho vivo

Um polvo não perde nada do que acontece à sua volta, enxergando com nitidez impressionante, mesmo à distância. A pupila é horizontal, mas as outras estruturas oculares são similares às do homem

Pequena diferença

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Parece um tentáculo atrofiado. Mas é o pênis, chamado hectocotilo, o único detalhe diferente na aparência dos machos em relação às fêmeas. O namoro do casal pode durar quatro dias

Maior agarro

Os oito tentáculos, juntos, reúnem cerca de duas mil ventosas, que são verdadeiros aparelhos de sucção. Graças a elas, quando o animal abraça uma presa ou mesmo uma pedra, ninguém solta

Lições de autodefesa

Apesar de ter um organismo primitivo, o polvo gigante é cheio de táticas de sobrevivência.

Gônada

A fábrica dos óvulos, nas fêmeas, e dos espermatozóides, nos machos.

Brânquia

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O órgão da respiração.

Bico

É usado para quebrar as conchas de apetitosos mariscos

Sifão

O órgão que lança água para o bicho se mover.

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Rudimento de concha

Os polvos primitivos viviam dentro de conchas, como as ostras. Até hoje, eles guardam dentro de si o vestígio desses tempos.

Cérebro

Dentro de uma cápsula de cartilagem, ele concentra 168 milhões de neurônios; dois terços cuidam da visão.

Glândula salivar

A saliva penetra o corpo dos crustáceos, que são o prato predileto do polvo. Então, ela derrete a carne da presa, que é sorvida como um milk-shake.

Ventosa

Estrutura com que o molusco agarra rochas ou presas.

Câmara de ar interna

Parte da ventosa que provoca a sucção.

Zás-trás

Quando fecha os seus tentáculos e se inclina, o bicho vence a resistência da água. Isso, somado ao mecanismo de propulsão, faz com que possa alcançar 40 quilômetros por hora, mesmo ao percorrer uma distância curta.

Camaleão do mar

Na pele, espalham-se cerca de 2 milhões de cromatóforos, células cheias de pigmentos, que obedecem a comandos nervosos, para trocar a cor do animal. Confundido com o ambiente, ele engana inimigos.

Jato de tinta

Qualquer agressor é recebido com tiros de melanina, uma molécula negra que se mistura à água do mar e demora para se dispersar. Assustado, no meio na nuvem escura, o estranho não vê o polvo escapar.

Qualquer buraco

É um contorcionista nato. Com facilidade, enrosca os tentáculos e encolhe o corpo. Um polvo gigante consegue se enfiar numa brecha de 10 centímetros quadrados, quando quer se esconder.

Futuros filhotes

Os ovos fecundados ficam guardados nas fendas das rochas marinhas e precisam de boa uma limpeza a cada cinco minutos. É a mãe quem cuida disso: seu sifão faz o papel de ducha nos seis meses e meio de gestação.

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