Essas cacatuas selvagens aprenderam a usar bebedouros em praças na Austrália
Pesquisadores acreditam que as aves aprenderam a técnica imitando humanos; veja vídeos.

Além de ostentarem moicanos impressionantes e estrelarem como o vilão na animação Rio, cacatuas são animais extremamente inteligentes e que se adaptam aos desafios urbanos. Por exemplo: alguns anos atrás, algumas Cacatua galerita que vivem nos subúrbios de Sydney, na Austrália, descobriram como abrir latas de lixo para encontrar restos de comidas.
Agora, esses pássaros descobriram como funciona o dispositivo de bebedouros de praças públicas australianas e começaram a fazer fila para beber água das pequenas fontes.
A técnica é avançada: com um pé elas giram a torneira que liga a água, enquanto a outra garra segura a ponta do bebedouro por onde sai o líquido.
“O comportamento consiste em uma combinação de ações envolvendo ambos os pés e o bico, além do uso do próprio peso corporal para iniciar o fluxo de água”, escreveram os pesquisadores que estudaram o novo comportamento.
Barbara C. Klump, autora do estudo publicado na revista Biology Letters e ecologista comportamental do Instituto Max Planck de Comportamento Animal, na Alemanha, avistou as cacatuas bebendo em bebedouros públicos pela primeira vez durante uma pesquisa de campo para outro projeto em 2018.
De primeira, ela imaginou que alguém tivesse esquecido de fechar a torneira e os bichinhos estivessem se aproveitando da circunstância. Mas, depois de analisar imagens de vídeo, percebeu que a ave segurando a manivela com a pata para ativar o fluxo de água. Segundo autoridades locais, o comportamento não era inédito e, na verdade, acontecia há anos.
Curiosa, Klump e sua equipe instalaram câmeras por perto dos bebedouros para pegar os animais no flagra. Veja o vídeo:
Eles acompanharam pássaros que vivem no oeste de Sydney. Durante os 44 dias em que gravaram, as cacatuas tentaram usar os bebedouros mais de 500 vezes – e tiveram sucesso em cerca de 46% das vezes. Isso sugere que a atividade requer uma sequência complexa de habilidades motoras que são difíceis de dominar, e nem sempre as tentativas dão certo.
Mesmo assim, 70% da população de 150 aves tentou usar os bebedouros. Elas visitavam o aparelho em horários semelhantes todos os dias, independentemente do clima ou da facilidade de encontrar outras fontes de água. Para os pesquisadores, isso significa que as cacatuas utilizam os bebedouros como uma fonte regular de água, em vez de apenas como um plano B quando não existem outras opções.
Aliás, existem muitas fontes de água acessíveis nas proximidades. Por isso, os pesquisadores questionam o porquê de elas insistirem nos bebedouros – que são fisicamente mais difíceis de acessar.
John Martin, coautor do estudo, contou ao The Guardian que, em seu entendimento, beber do bebedouro não era algo que ocorria apenas por necessidade, visto que havia um riacho próximo, a apenas 500 metros de distância. “Parecia haver um elemento de diversão”, disse ele. “O bando entrava e todos buscavam beber – relaxando um pouco e rindo.”
“Se não há uma necessidade urgente e você não está morrendo de sede, por que não fazer algo que você gosta?”, resumiu Klump ao New York Times.
Outra possibilidade é que os pássaros tenham adquirido o gosto pela água mais pura que vem dos bebedouros, explica Klump à revista Science. Ou os pássaros podem preferir a altura do aparelho, já que beber de uma fonte subterrânea os torna menos capazes de ver predadores como águias e falcões. Uma terceira hipótese diz que as cacatuas também podem simplesmente gostar de ligar as os bebedouros.
Outra pergunta que surgiu, segundo a autora, foi “como diabos as cacatuas descobriram isso?”. Para o New York Times, Klump disse que “semelhante à forma como os humanos adquirem novas habilidades, as cacatuas provavelmente desenvolveram seus talentos de beber de bebedouros por meio de uma mistura de observação mútua e experimentação individual”.
“Presumivelmente, os pássaros aprenderam o que fazer observando as pessoas”, disse Martin ao jornal inglês. “Finalmente, um deles entendeu, e então os outros ficaram tipo, ‘ah, isso é divertido’.”
E os bichinhos fazem questão de beber água ali: podem esperar até dez minutos na fila, até que chegue a sua vez de beber. Por isso, os pesquisadores acreditam que passar tempo nos bebedouros públicos também pode ser uma forma de interação social entre os pássaros.
O comportamento ainda não se espalhou por outros grupos, como aconteceu com a tendência de abrir lixeiras, identificado anos atrás. Porém, moradores de Brisbane, em outro estado australiano, também já avistaram cacatuas usando bebedouros por lá. Essas aves não são migratórias, logo a ecologista diz que há potencial para a “invenção independente do comportamento” em outros locais.
Dada a inteligência desses animais, pode não demorar muito para que mais cacatuas bebam nas fontes ao redor do país. Klump disse que “elas são tão inovadoras e hábeis em resolver problemas que parecem sempre acabar encontrando uma solução”, diz Klump. “De uma forma estranha, as cacatuas me surpreendem constantemente, mas também nunca fico tão surpresa.”
As pessoas podem enviar seus próprios registros de cacatuas por meio do site e aplicativo Big City Birds.