Estudo identifica 11 espécies de peixe que podem ser capazes de andar
Os animais apresentam conexão óssea entre a espinha dorsal e as nadadeiras pélvicas, sendo os únicos peixes com quadril semelhante ao de seres terrestres.
Quatro anos atrás, um grupo de pesquisadores da Instituto de Tecnologia de Nova Jersey (NJIT), nos EUA, identificou em uma caverna tailandesa o que eles consideravam ser um peixe raro. Era o Cryptotora thamicola, também conhecido como peixe-anjo das cavernas, um animal cego, da família Balitoridae, capaz de caminhar sobre as quatro nadadeiras e escalar cachoeiras. O peixe-anjo parecia único, mas agora, cientistas relataram que outras dez espécies da mesma família apresentam anatomia semelhante a sua, podendo também ser capazes de caminhar.
Talvez você já tenha ouvido falar sobre outras espécies de peixes que caminham sobre a terra, como é o caso dos mudskippers, que saem da água e se arrastam com o auxílio de suas nadadeiras frontais. A diferença entre estes e os membros da família Balitoridae é que os últimos andam sobre os quatro apoios, algo relatado apenas em tetrápodes, répteis e anfíbios.
Além disso, a estrutura corporal destas 11 espécies é diferente de outros peixes. Brooke Flammang, bióloga do NJIT e autora sênior do estudo, explicou ao site Gizmodo que “na maioria dos peixes, não há conexão óssea entre a espinha dorsal e as nadadeiras pélvicas. Esses peixes são diferentes porque têm quadris”.
Para identificar peixes semelhantes ao Cryptotora thamicola, os pesquisadores analisaram tomografias de outras 30 espécies de Balitoridae. Dentre elas, 20 foram excluídas por terem quadris muito finos ou mal conectados à coluna vertebral, o que diminui as chances de serem capazes de se sustentar. As dez restantes são estruturalmente parecidas ao peixe-anjo, com quadris mais robustos e com capacidade de andar. Mas por enquanto, essa caminhada é apenas uma hipótese, já que os estudos de locomoção com auxílio das nadadeiras só foram conclusivos com o peixe-anjo.
Os pesquisadores também realizaram análises de DNA para, junto aos exames de imagem, tentar entender a evolução destes animais. Há dois caminhos possíveis. No primeiro, a pelve óssea desses peixes poderia ter sido transmitida para as 11 espécies por um único ancestral comum; já na segunda hipótese, a estrutura seria fruto de diversas evoluções distintas dentro da família Balitoridae. Os cientistas defendem a segunda ideia como a mais provável. O motivo da adaptação parece ter sido a necessidade de viver em correntezas de rios, riachos e cachoeiras.
Flammang explica que esses peixes podem ajudar os pesquisadores na compreensão dos primeiros seres vivos que caminharam sobre a Terra. “Sabemos que, ao longo da evolução, os organismos convergiram repetidamente para morfologias semelhantes como resultado de enfrentar pressões parecidas da seleção natural”, explicou. “E também sabemos que a física não muda com o tempo. Portanto, podemos aprender com a mecânica de como esse peixe anda e usá-la para entender melhor como os primeiros animais extintos podem ter caminhado”.