Índia se torna o primeiro país a pousar no polo sul da Lua
E também é o quarto país a chegar na Lua em quase 70 anos. A missão indiana pretende detectar a presença de água no satélite
Fazendo uma trocadilho com Ártemis (a deusa da caça e da Lua grega): um dia é o da caça, outro é o do caçador. Ao passo que o último domingo registrou a desastrosa tentativa de retorno à Lua da Rússia, hoje (23) marca um dia para entrar na história para outro país. A Índia conseguiu pousar, pela primeira vez, uma sonda no satélite lunar – e em uma região onde nenhum país havia conseguido antes.
O módulo lunar Chandrayaan-3 (cujo nome significa literalmente “nave lunar” em sânscrito), pousou no polo sul da Lua às 9:33 (no horário de Brasília). A alunissagem foi transmitida ao vivo pela própria agência espacial indiana, a Organização Indiana de Pesquisa Espacial (ISRO na sigla em inglês).
A região inexplorada é a mesma em que os russos tentaram pousar dias atrás, e é conhecida por possivelmente abrigar água congelada. Isso por si só já seria histórico, mas o feito é ainda mais impressionante. Além de de tratar de uma região inédita, a Índia se tornou o quarto país na história a chegar no satélite em quase 70 anos.
O lugar onde Chandrayaan-3 pousou é comumente chamado de “o lado escuro da lua”, mas essa denominação é equivocada. Para a tristeza dos membros do Pink Floyd, esse lado dark da Lua não existe. O termo mais correto seria “oculto”. Isso acontece porque a Lua e a Terra se movimentam de forma sincronizada, então há um lado do satélite que a gente. Apesar de “oculto”, esse lado não é escuro. Ele é frequentemente iluminado pelo Sol.
A missão, lançada no último dia 14 de Julho no foguete Launch Vehicle Mark-III, levou 40 dias para completar seu objetivo. Essa não foi a primeira tentativa: em 2019, a missão da Chandrayaan-2 também terminou em desastre, com o módulo colidindo na superfície lunar durante a tentativa de pouso.
“Hoje, alcançamos o que nos propusemos a fazer em 2019. Foi adiado por cerca de quatro anos, mas conseguimos” disse Shri M. Sankaran, diretor do Centro de Satélites U R Rao da ISRO.
A transmissão ao vivo também contou com a presença do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, que destacou que o sucesso da missão é de todo o planeta, visto que a Índia é o primeiro país em desenvolvimento a pousar em solo lunar.
“A missão lunar bem-sucedida da Índia não é apenas da Índia. Esse sucesso pertence a toda a humanidade, e ele ajudará nas missões lunares de outros países no futuro. Tenho confiança de que todos os países do mundo, incluindo aqueles do Sul Global, são capazes de alcançar tais feitos. Todos nós podemos aspirar à lua e além”.
O módulo lunar foi acompanhado com dois equipamentos de exploração: enquanto o roover Pragyan foi equipado com instrumentos para estudar a composição química do solo, o módulo de pouso Vikram está munido com medidores de fluxo de íons para estudar a temperatura e a atividade sísmica do satélite. Ambos terão aproximadamente 14 dias para fazer tudo isso, já que, após esse período, a região deixará de ser iluminada pelo Sol.
Apesar disso, o principal objetivo da missão é detectar e comprovar a existência de água. Missões anteriores já detectaram evidências de que pode existir água dentro das crateras polares, o que pode ser crucial para missões futuras. Em uma ideia que parece saída de filmes de ficção científica como o do filme Lunar, de 2009, países como a China e os EUA estudam construir uma base permanente por lá.