Marte pode ter sido o primeiro planeta do Sistema Solar a abrigar vida, diz estudo
Há 4,5 bilhões de anos, o planeta vermelho teria água suficiente para formar um oceano de 300 metros de profundidade.
É difícil imaginar Marte sem o aspecto árido e inóspito que caracteriza o planeta vermelho. Sua atmosfera é tão rarefeita e gelada que, se houvesse alguma água na superfície do planeta, ela só poderia existir em forma de gelo. Mas um estudo publicado este mês no periódico Science sugere que nem sempre foi assim.
Marte já foi um planeta quente, de atmosfera densa, e com enormes corpos de água em sua superfície. E mais: há 4,5 bilhões de anos, o planeta pode ter sido coberto com um oceano de 300 metros de profundidade. Considerando as moléculas orgânicas e outros elementos químicos presentes em asteroides e cometas naquela época, os pesquisadores argumentam que Marte pode ter sido o primeiro planeta do Sistema Solar a abrigar vida.
Para ter uma noção de tempo: hoje sabemos que a Terra tem 4,567 bilhões de anos. Marte se formou não muito antes, há 4,6 bilhões de anos. Esses planetas passaram por um período intenso de quedas de asteroides entre 4,5 e 3,8 bilhões de anos atrás, que ficou conhecido como Intenso Bombardeio Tardio.
Algumas teorias defendem que esse período foi o responsável por distribuir água e moléculas orgânicas pelo Sistema Solar – que posteriormente se tornariam os ingredientes essenciais para a formação de vida. “Naquela época, Marte era bombardeado com asteroides cheios de gelo. Isso aconteceu nos primeiros 100 milhões de anos da evolução do planeta. Esses asteroides também carregavam moléculas orgânicas biologicamente importantes para a vida”, disse Martin Bizzarro, um dos autores do estudo, em nota.
Para chegar à conclusão, pesquisadores da Universidade de Paris, Universidade de Copenhague, ETH Zurique e Universidade de Berna analisaram a variabilidade de um isótopo de cromo (54Cr) presente em um meteorito marciano. A rocha fez parte da crosta de Marte há bilhões de anos, revelando a composição do planeta naquela época.
Analisando o isótopo, a equipe estimou a taxa de impacto de asteroides em Marte há 4,5 bilhões de anos – e, consequentemente, quanta água eles levaram ao planeta vermelho. Segundo eles, a quantidade de água seria suficiente para cobrir todo o planeta com um grande oceano de pelo menos 300 metros de profundidade, podendo atingir até um quilômetro em algumas regiões. Os asteroides também levaram aminoácidos, que fazem parte de moléculas orgânicas complexas, como RNA, DNA e proteínas.
Já é bem aceito entre cientistas que Marte tinha água líquida em sua superfície no passado. A questão é saber se a quantidade de água, em conjunto com outras moléculas, seriam suficientes para viabilizar o surgimento de vida. Há, inclusive, rovers coletando amostras do solo de Marte. Quando essas amostras vierem para a Terra, pesquisadores irão procurar por fósseis de bactérias. Você pode ler mais sobre essa operação neste texto.
Segundo o novo estudo, a quantidade de água no planeta seria mais do que suficiente para abrigar vida, o que implicaria que Marte pode ter sido lar de microorganismos antes mesmo da Terra. Mas como estava o nosso planeta durante isso tudo?
A Terra até tinha potencial para vida – mas uma colisão gigantesca entre o nosso planeta e outro corpo espacial acabou com qualquer chance de que essa vida se desenvolvesse. A colisão foi tão forte que deu origem a um outro corpo celeste: a Lua. Esse evento colocou o nosso satélite natural em órbita ao redor da Terra, numa época em que o planeta ainda era seco.