Misterioso círculo de ondas de rádio é descoberto no centro da Via Láctea
Os cientistas ainda não sabem a origem e a localização exata do anel “invisível”, que só é detectado com equipamentos especiais.
Pesquisadores que utilizavam o radiotelescópio MeerKAT, na África do Sul, identificaram um misterioso padrão de ondas de rádio em formato de círculo no centro da Via Láctea. Desde 2019, cientistas já estavam observando o que eles chamaram de Odd Radio Circles, ou ORC (Círculos de rádio estranhos, em tradução literal). Entretanto, os ORC geralmente estavam muito distantes da nossa galáxia.
Muitos dos ORC conhecidos possuem uma galáxia bem no centro do círculo, e, por isso, acreditava-se que a sua origem poderia ser uma explosão dessa galáxia. Um evento de explosão estelar poderia resultar em sinais semelhantes, causados por muitas supernovas ou em uma fusão entre dois buracos negros supermassivos que levasse a um pulso de energia.
Agora, pela primeira vez, um ORC foi detectado próximo da Via Láctea, embora seja difícil entender sua localização exata. Do nosso ponto de vista, ele parece estar bem próximo do centro da galáxia, mas essa pode ser uma questão de perspectiva e de coincidência. Segundo os especialistas, ele pode estar muito mais perto ou muito mais longe do que o centro da nossa galáxia, que está a 26 mil anos-luz de distância.
O círculo foi catalogado oficialmente como J1802-3353, mas seus descobridores o apelidaram de Kýklos, nome que significa “círculo” em grego. O anel em si só é visto em comprimentos de onda de rádio, em que aparece fraco, irregular e fino.
Para definir o seu tamanho, os cientistas utilizam uma unidade de medida em segundos. Imagine que o céu é dividido em 360 graus, e cada grau é dividido em 3,6 mil partes. Cada uma dessas partes é um segundo.
O Kýklos se estende por 80 segundos de arco no céu, e tem 6 segundos de arco de espessura. Seu espectro de rádio é surpreendentemente plano, o que significa que ele não tem nenhuma linha espectral notável, ao contrário dos ORCs anteriores.
Os cientistas ainda não sabem exatamente o que originou Kýklos, e discutem algumas hipóteses. O artigo já foi aceito para publicação na revista Astronomy & Astrophysics, e uma versão preliminar está disponível.
A teoria mais provável é que o anel tenha sido formado por uma Wolf-Rayet, que é uma estrela maciça e instável capaz de gerar um poderoso vento de radiação. Essas estrelas geralmente são acompanhadas por uma nebulosa que é destruída pelo vento de radiação.
Embora nenhuma nebulosa Wolf-Rayet seja aparente no círculo, isso não seria incomum, já que a poeira próxima à estrela é rapidamente destruída. Os cientistas devem continuar a investigar, especialmente através do Telescópio Espacial James Webb, os dados espectrais para ajudar a resolver o mistério do Kýklos.