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Netuno está 8ºC mais frio – e os cientistas ainda não sabem por quê

É verão no hemisfério sul do planeta, mas um estudo que coletou dados desde 2003 mostrou que os termômetros baixaram, contrariando expectativas. Entenda.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 9 ago 2022, 13h15 - Publicado em 13 abr 2022, 18h06

-214ºC. Essa é a temperatura média de Netuno, o segundo planeta mais frio do Sistema Solar (só perde para Urano, que bate os -225°C) e o mais distante do Sol. Ele está a 2,7 bilhões de quilômetros dele – 30 vezes a distância entre a estrela e a Terra.

Netuno demora 60 mil dias terrestres para completar uma volta em torno do Sol. Um ano lá equivalem a 165 anos aqui na Terra. Isso, claro, altera a duração das estações no planeta: cada uma delas dura mais de 40 anos.

Em 2003, o hemisfério sul de Netuno entrou em um longo verão. Mas, para a surpresa dos cientistas, as temperaturas nessa região do planeta não aumentaram. Pelo contrário: diminuíram em 8ºC.

É o que mostra um estudo publicado na última segunda-feira (11) na revista Planetary Science Journal. A pesquisa se baseou em 95 imagens infravermelhas termais, coletadas entre 2003 e 2020 por telescópios terrestres, como o Very Large Telescope, no Chile. Até hoje, esse é o levantamento mais abrangente da temperatura atmosférica de Netuno.

Houve, contudo, uma exceção à queda, que aconteceu perto do pólo sul do planeta. Entre 2018 e 2020, uma área aumentou 11°C, uma mudança inesperadamente rápida. Foi a primeira vez que cientistas observaram um aquecimento tão brusco em uma região polar de Netuno.

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Mas o que explica essas observações tão opostas?

Primeiro, é preciso dizer que a ciência ainda sabe pouco sobre Netuno (e a passagem das estações por lá). O planeta foi descoberto apenas em 1846 (matemáticos, contudo, previram sua existência antes disso), e única nave a passar perto dele foi a Voyager 2, em 1989.

O rápido aumento no pólo sul pode ter acontecido devido a fenômenos climáticos corriqueiros. À revista New Scientist, Michael Roman, da Universidade de Leicester (Reino Unido) e um dos autores do estudo, explicou que algo semelhante aconteceu recentemente no pólo norte de Saturno durante a formação de uma enorme tempestade.

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Agora, entender a queda de temperatura em pleno verão netuniano é um pouco mais complicado. Os cientistas acreditam que isso tenha a ver com alguma alteração química na atmosfera do planeta, influenciada pelo ciclo solar – um intervalo de 11 anos que vai do “mínimo solar” (quando o campo magnético do Sol está mais fraco) ao “máximo solar” (quando o campo magnético está mais forte, período caracterizado pelo aparecimento de manchas solares).

Nada impede também que a mudança seja apenas um processo sazonal que ainda não compreendemos totalmente. Afinal, as imagens coletadas abrangem apenas metade do verão do hemisfério sul do planeta. “Precisamos de mais décadas de observações para realmente compreender isso”, declarou Roman. À Reuters, Glenn Orton, coautor do estudo, disse que, pelas características de Netuno, estudar a sua meteorologia ajudará também nas pesquisas de exoplanetas (planetas fora do Sistema Solar).

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