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O plano da Starlink para tornar seus satélites menos brilhantes

A capacidade reflexiva dos satélites de internet de Elon Musk tem irritado astrônomos. Mas a empresa já diz ter um plano de ação para conter o problema.

Por A. J. Oliveira
10 dez 2019, 18h16

As empreitadas de Elon Musk – e da SpaceX – costumam ser recebidas pelo público com bastante empolgação. Com o projeto Starlink não foi diferente – não dá para dizer que a ideia de 12 mil “roteadores” orbitais irradiando banda larga ao mundo todo não seja, de fato, bem empolgante. Mas o entusiasmo logo deu lugar à preocupação, sobretudo dos astrônomos. É que, assim que os primeiros satélites foram lançados, ficou claro que eles representavam um risco para os estudos do Universo.

Como são feitos de material que reflete muita luz solar, os equipamentos são facilmente visíveis no céu noturno e acabam estragando observações de estrelas e galáxias distantes. Até o momento, há 122 desses satélites em órbita. Dois deles foram lançados em fevereiro de 2019, durante a missão teste “Tintin”. O restante ganhou o espaço em dois lotes de 60 — um deles subiu em maio, o outro em novembro. E os problemas já começaram.

Astrônomos de vários países estão relatando valiosas noites de pesquisa perdidas e o disputado tempo de observatórios gasto em vão, tudo por culpa da intromissão dos satélites muito brilhantes da Starlink, que invalidam os dados coletados. Isso acontece porque, parados no céu em bando e com um brilho intenso, os equipamentos podem facilmente se passar por estrelas – ou ofuscar astros vistos em lentes menos potentes. Quem mais sofre é a astronomia óptica, que se baseia na coleta de fotos dos objetos celestes.

Os cientistas ficaram ainda mais alarmados depois que a SpaceX anunciou suas intenções de lançar 30 mil satélites extras, aumentando o número total para 42 mil. Seria um completo desastre para a pesquisa astronômica, inviabilizando diversos projetos de grande porte em fase de planejamento e construção, ou atrasando e encarecendo outros tantos para que consigam contornar o problema.

A SpaceX foi pega de surpresa com essa situação e não previa que sua megaconstelação de internet daria dor de cabeça à ciência. “Ninguém havia pensado nisso, nem nós, nem a comunidade astronômica”, disse Gwynne Shotwell, presidente da empresa de Elon Musk, em coletiva de imprensa na última sexta (6).

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Finalmente, a companhia anunciou medidas concretas para responder à crescente pressão e apaziguar os ânimos dos astrônomos. Segundo a executiva, o plano é testar um novo tipo de revestimento que tornará os satélites Starlink menos reflexivos, mais opacos, e reduzirá seu brilho aparente quando transitam pelo céu noturno. O teste começa na próxima fornada de 60 satélites, prevista para lançamento ainda neste mês.

A camada vai ser aplicada na parte de baixo de um dos equipamentos, para que os técnicos da SpaceX avaliem se causará perda de performance nos transmissores de internet. É que o material anti-reflexivo pode provocar mudanças térmicas que comprometem o funcionamento do sistema. De acordo com Shotwell, será preciso um pouco de paciência para fazer a solução do revestimento dar certo, após muitas tentativas e erros.

Ainda não se sabe, contudo, se o esforço dará resultado à astronomia. O revestimento certamente reduzirá o brilho (ou magnitude) dos satélites, talvez até mesmo tornando-os invisíveis a olho nu. Mas para telescópios potentes é outra história. Pesquisas para estudar, por exemplo, a matéria escura e a energia escura, ou ainda asteroides potencialmente perigosos, são muito sensíveis a qualquer mínima distorção.

A única saída 100% eficaz seria posicionar os satélites em uma órbita mais elevada, um pouco mais distante da Terra – que é exatamente o que quer fazer a OneWeb, concorrente da SpaceX nesse mercado. Só que isso exige transmissores mais potentes, o que aumenta o custo das megaconstelações. Como o espaço atualmente é uma terra quase sem lei, a iniciativa de resolver ou não o problema cabe inteiramente à SpaceX. Se mudar a cobertura dos equipamentos vai resolver o problema, isso é algo que só o tempo – e a comunidade astronômica, claro – poderá dizer.

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