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O que acontece no cérebro de quem troca as mãos pelos pés

Nosso cérebro possui áreas específicas para cada dedo da mão. Mas o que acontece com quem precisa se virar sem eles?

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 24 jun 2020, 13h00 - Publicado em 27 set 2019, 19h57

Usamos as mãos para quase tudo. É só parar um pouco e pensar o quão dependentes somos delas no dia-dia: para escovar os dentes, dirigir, cozinhar, praticar esportes e até para escolher aquela figurinha no WhatsApp.

Por conta disso, cada um dos nossos dedos possui uma região correspondente no cérebro. Esse mapeamento cerebral superespecífico torna o controle de todos os pedacinhos articulados da mão muito mais preciso.

Mas o que acontece com quem não tem esses membros? Um estudo mostrou que, em pessoas que precisam usar os pés para tarefas diárias, como escovar os dentes (e até pintar, no caso de artistas), os dedos do pé acabam substituindo os das mãos, ocupando a mesma área cerebral.

É a primeira vez que esse comportamento é observado em humanos. Como a maior parte das pessoas não usa os dedos do pé para atividades complexas, o cérebro não sente a necessidade de mapeá-los. Isso não acontece, por exemplo, com outras espécies de primatas, que usam os pés o tempo todo para escalar e segurar objetos e alimentos.

Trocando os pés pelas mãos (ou o contrário)

A pesquisa foi feita pela Universidade College London, do Reino Unido, e publicada na revista Cell Reports. Para o estudo, os cientistas analisaram as respostas sensoriais de dois artistas britânicos que usam os pés para pintar (e que não possuem os membros superiores), e 21 pessoas que usam as mãos para servir de grupo controle.

Para observar o comportamento do cérebro, os participantes foram submetidos a uma ressonância magnética. Durante o exame, os pesquisadores davam pequenos toques nos pés de cada um, e observavam como esses estímulos eram interpretados.

Os resultados mostraram que, nos artistas, havia um complexo mapa cerebral com regiões para cada dedo do pé – regiões essas que, no cérebro dos outros participantes, eram destinadas para os dedos da mão.

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Isso foi resultado de muito treino, claro, já que é preciso desenvolver a percepção sensorial de cada dedo do pé, individualmente. Mesmo no caso dos pintores, a percepção do pé direito era maior que a do esquerdo. A explicação é simples: no dia-dia dos artistas, que são destros, o pé esquerdo acaba sendo usado mais para estabilização – uma atividade bem menos complexa que pintar uma tela.

Pesquisas do tipo servem para mostrar a capacidade que o nosso cérebro tem de se moldar e adaptar à medida que o utilizamos de diferentes formas.

“Os mapas que temos no cérebros não são necessariamente fixos”, disse em um comunicado Tamar Makin, líder do estudo. “Eles parecem ser desse jeito apenas porque a maioria das pessoas se comporta de maneira muito semelhante.” Explorar essa tal plasticidade do cérebro pode ajudar a aprimorar tratamentos de reabilitação ou para dores de membros amputados, por exemplo.

De acordo com a pesquisa, os artistas que se voluntariaram não têm o hábito de usar calçados fechados. Faz sentido, afinal, eles usam os pés com frequência. Os cientistas acreditam que esse costume pode ter ajudado a desenvolver a percepção sensorial mais complexa nessa parte do corpo.

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