O que é uma anti-aurora, fenômeno que criou um “E” no céu do Alasca
As irmãs "do contra" das auroras boreais são um fenômeno inverso ao famoso espetáculo de luzes. Entenda.
As regiões mais ao norte do planeta encantam turistas de todo o mundo que desejam ver o espetáculo de luzes das auroras boreais nos céus. O que pouca gente sabe, porém, é que as protagonistas dessas luzes têm irmãs menos conhecidas: as “anti-auroras” negras.
Foi esse fenômeno que causou a figura em formato de “E” fotografada recentemente no Alasca, no dia 22 de novembro. Todd Salat, fotógrafo e caçador de auroras, contou que a letra ficou passeando entre as luzes. “Ela veio do noroeste e eu pensei, ‘uau!’ Parecia a letra E para mim”, Salat ao Spaceweather.com. “Em apenas alguns minutos, parecia uma criatura com as pernas para cima.”
Definitivamente, a imagem não se tratava de um animal, e muito menos de uma mensagem enviada por ETs. Então, o que era?
Salat presenciou um evento conhecido como “anti-aurora”, ou auroras negras. Essas auroras são uma descoberta relativamente recente: foram identificadas no final dos anos 1990. Em 2001, cientistas começaram a entender seu funcionamento, quando os satélites Cluster da ESA passaram por uma região com uma aurora negra, revelando células verticais na atmosfera onde os elétrons eram repelidos para o espaço.
Em 2015, um estudo com dados da missão Cluster mostrou que essas células se formam quando as auroras esgotam o plasma, criando “cavidades ionosféricas” durante distúrbios na magnetosfera causados por tempestades solares.
Para entendermos o que são as irmãs “do contra” das auroras, vale uma breve introdução sobre o que são auroras. O show de luzes é o resultado da colisão de partículas do Sol, eletricamente carregadas, com o oxigênio e nitrogênio da atmosfera, que liberam energia em forma de luz. As partículas são redirecionadas pelos campos magnéticos da Terra, e por isso ocorrem nas regiões polares – tanto do norte quanto do sul do planeta.
Já as anti-auroras são causadas por um efeito reverso. Elas acontecem quando a ionosfera, em vez de ser preenchida por partículas carregadas vindas do espaço, sofre uma espécie de “vazio” ou “buraco” de elétrons. Ou seja: a energia necessária para provocar a emissão de luz não chega às partículas da atmosfera.
Como resultado, em vez de observarmos as cores brilhantes das auroras, vemos áreas escuras, como se essas regiões tivessem sido “mordidas” ou retiradas do padrão luminoso da aurora. Isso cria manchas escuras ou anéis negros no meio da aurora brilhante.
O fenômeno ocorre porque as anti-auroras interrompem o processo normal de formação da aurora. Elas “privam” os gases ionosféricos da energia dos elétrons, essencial para que esses gases emitam luz. Portanto, o que se observa são regiões escuras, onde a energia dos elétrons não chega.
Göran Marklund, físico de plasmas no Instituto Real de Tecnologia da Suécia, disse à ESA que “a aurora negra na verdade não é uma aurora; é a falta de atividade auroral em uma região onde os elétrons são ‘sugados’ da ionosfera”.
O fenômeno pode acontecer tanto em auroras boreais (vistas no norte do globo), quanto nas austrais (vistas no sul do globo) e podem durar cerca de 10 a 20 minutos.