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Por que o sono profundo é importante para a formação de memórias

Novo estudo com 45 amostras intactas de neocórtex tenta desvendar a relação entre essa fase do ciclo do sono com a capacidade de reter lembranças.

Por Eduardo Lima
15 dez 2024, 16h00

Toda noite, na sua cama, você passa por quatro a seis ciclos de sono. Cada um deles é dividido em quatro estágios: N1, N2, N3 e REM (sigla para rapid eye movement, movimento rápido dos olhos; os sonhos são muito comuns nessa hora). Antes de alcançar o sono REM, nosso corpo passa por três fases não-REM. Uma delas, a N3, é conhecida como “sono profundo”.

Essencial para acordar bem depois de uma noite de descanso, o sono profundo geralmente dura de 70 a 90 minutos e acontece nas primeiras horas da noite. Batimentos cardíacos, músculos e respiração ficam mais relaxados, e as ondas cerebrais (padrões rítmicos da atividade elétrica dos neurônios) ficam lentas. Por isso, é difícil ser acordado nesse estágio do sono.

Há cerca de 20 anos, os cientistas sabem que essas ondas cerebrais lentas e síncronas do sono profundo são importantes para a formação de memórias. Eles só não sabiam o porquê – até agora.

Um novo estudo, publicado na revista Nature Communications, oferece uma explicação para o fenômeno, baseada na pesquisa de cientistas do hospital universitário Charité – Universitätsmedizin, em Berlim, na Alemanha. Vamos entendê-la.

Os especialistas acreditam que, enquanto dormimos, o cérebro faz um “Vale a Pena Ver de Novo” de tudo que rolou no dia, movendo algumas informações do hipocampo (associado à memória de curto prazo, nossa memória de trabalho) ao neocórtex (memória de longo prazo).

As ondas lentas do sono N3 são essenciais na formação das memórias. A cada segundo, a tensão elétrica de todos os neurônios abaixa e aumenta em sincronia. Já era comprovado que essa valsa voltaica dos neurônios ajudava a formar memórias, mas não se sabia o quê, exatamente, estava acontecendo dentro do cérebro.

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O estudo dos pesquisadores da Alemanha, liderados pelo professor Jörg Geiger, é pioneiro porque tenta desvendar esse mistério. Eles analisaram tecido cerebral humano do neocórtex intacto (cortesia de 45 pacientes que tinham passado por cirurgia para tratar epilepsia ou tumores cerebrais) para entender os processos que guiam essa formação de memórias no sono profundo.

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Nesse tecido, eles simularam as flutuações síncronas de voltagem dos neurônios, típicas do sono profundo. Depois disso, eles analisaram a resposta das células nervosas.

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As ondas cerebrais lentas, de acordo com a descoberta do novo estudo, influenciam a força das conexões sinápticas entre os neurônios no neocórtex. Ou seja: durante o sono profundo, essa região do cérebro está mais receptiva a novas informações. Num momento específico da dança da tensão elétrica, logo depois da voltagem sair de um nível baixo para um nível elevado, as conexões sinápticas aumentam ao máximo no neocórtex.

Durante esse curto período, se o cérebro dá play em alguma memória do dia, ela é transferida com sucesso para o armazenamento de longo prazo. Por isso, durante o sono profundo, mais memórias são formadas, mesmo que nesses brevíssimos instantes de máxima conectividade.

Essa descoberta pode ser usada para pensar em terapias para melhorar a memória de pessoas idosas que tem problemas com suas lembranças. Usar impulsos elétricos sutis ou sinais acústicos para influenciar as ondas cerebrais durante o sono pode ser um caminho para melhorar a memória de quem precisa.

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Mas, enquanto essas terapias não ficam prontas e você não está com problemas sérios no neocórtex, o melhor jeito de lembrar mais é dormir direito.

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