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Quarentena generalizada diminuiu a vibração da crosta terrestre

Com menor atividade humana, o chamado ruído sísmico da crosta terrestre também diminuiu. Entenda o fenômeno.

Por Bruno Carbinatto
Atualizado em 27 jul 2020, 20h41 - Publicado em 1 abr 2020, 19h25

Com grande parte do mundo adotando medidas totais ou parciais de distanciamento social, a Terra está ficando menos agitada – literalmente. Cientistas de diversos países já vinham observando a diminuição do chamado ruído sísmico, o barulho gerado pela vibração da crosta terrestre capaz de ser medido por instrumentos chamados sismógrafos. Agora, um novo estudo compilou os dados de vários países e confirmou: a superfície terrestre está um pouquinho menos vibrante por conta das quarentenas impostas pelo mundo.

A redução provavelmente tem a ver com a menor circulação de pessoas e carros pelas cidades, além da pausa em outras atividades humanas, segundo pesquisadores. Parece exagerado pensar que nossas ações alteram a dinâmica terrestre, mas, quando somadas, as influências humanas causam sim pequenas variações na vibração da crosta, principalmente em nível local. Esse “ruído de fundo”, em geral, é negativo para a atividade dos sismógrafos, porque atrapalha as observações de ruídos naturais que ocorram na mesma frequência.

Um estudo publicado na revista Science reuniu dados de 268 estações sísmicas em 117 países e concluiu que o ruído sísmico causado por atividades humanas diminuiu em até 50%, num período que se estendeu por meses (a pesquisa incluiu dados até maio de 2020). Isso representa a maior e mais longa redução no ruído sísmico humano já registrada. As quedas coincidem com a imposição de medidas de quarentena e lockdown pelo mundo, e foram mais acentuadas em grandes centros urbanos.

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Antes do estudo ser formalmente publicado, cientistas de vários lugares do mundo já estavam relatando o fenômeno de forma informal, principalmente através de seus perfis no Twitter. Um dos primeiros centros a fazer isso, ainda em março, foi o Observatório Real da Bélgica, que fica em Bruxelas. Na época, a redução dos ruídos sísmicos causados por humanos na cidade foi de até um terço desde que foram implementadas medidas de isolamento social. O país europeu foi um dos mais afetados pela pandemia em números per capita e ficou em quarentena por bastante tempo, até que o número de novos casos se estabilizasse em patamares baixos, o que ocorreu em maio. O novo estudo tem como autor principal Thomas Lecocq, do mesmo Observatório, que decidiu pesquisar o tema após as observações iniciais.

A redução por si só não é incomum: em fins de semana, por exemplo, o ruído de fundo causado por humanos geralmente cai. E, como Thomas Lecocq lembrou na época à revista Nature, esses menores níveis também aparecem no país durante feriados nacionais, como o Natal. Mas, agora, ela está sendo prolongada em níveis nunca antes vistos.

Outros cientistas ao redor do mundo também divulgaram reduções parecidas na época. Em seu Twitter, o sismólogo Stephen Hicks, da Imperial College, mostrou dados da organização British Geological Survey que revelam uma redução da atividade sísmica no Reino Unido. Ele lembrou que a estação fica perto da rodovia M4 – uma estrada que liga Londres ao País de Gales –, então a redução provavelmente reflete o menor tráfego de carros na região. Hicks foi um dos coautores da nova pesquisa que compilou dados como esses pelo mundo.

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Também no Twitter, Celeste Labedz, doutoranda no Instituto de Tecnologia da Califórnia, mostrou uma redução acentuada na atividade sísmica medida em Los Angeles, nos Estados Unidos, ainda em março. “A queda é realmente radical”, escreveu. Fenômenos parecidos também foram identificados em Paris, na França, e em Auckland, na Nova Zelândia. Ela também participou da publicação do novo estudo.

Para os cientistas, a redução é positiva, porque torna mais fácil que terremotos leves e outras perturbações na crosta sejam identificadas sem o ruído humano. Na época em que as primeiras reduções foram divulgadas, porém, alguns geólogos alertaram que muitos sismógragos pelo mundo não registrariam reduções tão acentuadas como as citadas aqui, porque a maioria é é instalada longe de cidades ou enterrada no chão, exatamente para evitar ao máximo as perturbações vindas de atividade humana. O novo estudo, porém, descobriu que mesmos equipamentos longe de cidades e até um enterrado a 150 metros abaixo no chão na Floresta Negra da Alemanha tiveram quedas detectáveis em seus ruídos, o que sugere que as perturbações humanas se estendem para mais longe do que imaginávamos até então.

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