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Sistema imune de mulheres responde melhor à Covid-19, aponta estudo

A análise identificou que elas conseguem controlar o perfil de moléculas do sistema imune, evitando que resultem em uma resposta exagerada e fatal.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 25 nov 2020, 22h37 - Publicado em 25 nov 2020, 18h00

O número de mortes e a incidência de casos graves de Covid-19 é maior em homens do que em mulheres. Uma análise recente de 180 mil mortes no mundo mostra que, entre indivíduos com mais de 65 anos, a letalidade da doença é 77% maior no sexo masculino. Essa tendência vem sendo constatada na maior parte dos países desde o início da pandemia, quando cientistas começaram a especular qual seria o motivo da disparidade. 

Uma nova pesquisa liderada por cientistas brasileiros aponta os possíveis fatores envolvidos nessa diferença. De maneira geral, o sistema imunológico feminino responde de forma mais branda ao vírus, o que evita uma inflamação exagerada (a chamada “tempestade de citocinas”, que lesiona os órgãos e pode levar à morte). O artigo está disponível na forma de pré-print, e ainda deve passar pela revisão de outros cientistas.

A pós doutoranda Paula Freire e o professor Otávio Cabral-Marques, em conjunto com outros pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da USP, analisaram dados genômicos de mais de mil pessoas infectadas pela Covid-19, por meio do repositório público Gene Expression Omnibus (GEO). O material genético foi obtido por meio de secreções da nasofaringe e exames de sangue, coletados para o diagnóstico da doença. 

Eles compararam os genes envolvidos na resposta imunológica em conjunto com informações de sexo e idade dos pacientes. As mulheres, independentemente da idade, exibiram um perfil imunológico mais controlado – similar ao observado nos pacientes mais jovens. Essas pessoas apresentam uma menor expressão de citocinas e genes relacionados à resposta imunológica do organismo (eles “convocam” os neutrófilos, células de defesa que, se agirem em excesso, podem acabar danificando tecidos e órgãos).

Quando há uma grande descarga de citocinas, o corpo reage de forma exacerbada, convocando muitos neutrófilos. Essa reação foi mais observada em homens e pessoas idosas, que possuem mais chances de desenvolver a forma grave da doença. A tempestade de citocinas provoca pequenos coágulos que impedem o sangue de chegar a algumas partes do corpo – e pode levar à morte dos pacientes.

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Ao analisar os dois perfis, os pesquisadores chegaram a um conjunto de genes que se expressam de forma diferente em homens e mulheres, como o CXCR2, o IL-1β e o S100A9. É como se eles guardassem a “receita” de como o corpo deve reagir quando encontra um invasor. Só que, na hora de colocar em prática, as mulheres usam uma dose menor do que os homens, e por isso controlam a resposta imunológica.

Isso não significa que todas as mulheres vão responder melhor ao vírus. As conclusões foram feitas com base em um grupo de centenas de pacientes, mas cada corpo responde de uma forma diferente. No entanto, existem algumas diferenças entre o sistema imunológico masculino e feminino – e esse último pode levar vantagem.

Ainda não se sabe como as mulheres conseguem fazer essa modulação mais precisa, mas Freire lembra de uma diferença crucial entre os sexos: “a mulher abriga um corpo estranho dentro de si, que é o feto, e não o elimina. O sistema imune da mulher é diferente porque ela consegue determinar o momento em que deve eliminar o invasor, ou controlar a resposta”, diz a pesquisadora.

A boa notícia é que existem drogas já conhecidas que podem atuar especificamente para regular o CXCR2 ou IL-1β, por exemplo, diminuindo a expressão de citocinas. Elas podem ser testadas tanto em homens quanto em mulheres que contraíram a Covid-19. “Nessa pesquisa, nós levantamos esses potenciais alvos terapêuticos que podem ajudar a reduzir a severidade da doença”, diz a pesquisadora.

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