Radar e armas químicas: a arte da guerra das plantas contra os insetos
As plantas não conseguem correr dos insetos que desejam almoçá-las, mas têm um arsenal complexo para se defender deles – que inclui detecção à distância e produção de substâncias tóxicas.
A convidada desta semana é Maria Fernanda Peñaflor, professora-adjunta no Departamento de Entomologia da Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais.
As plantas parecem seres passivos e incapazes de fugir do ataque de insetos, que veem em suas suculentas folhas, flores e caule uma importante fonte de alimento.
De fato, os vegetais não conseguem bater em retirada ao verem seus inimigos, mas estão longe de serem inofensivos. Além de estruturas de defesa, como espinhos, pelos e folhas mais rígidas para dificultar a vida dos agressores, as plantas possuem um arsenal químico muito potente em sua luta contra os insetos.
O custo para fabricar esses compostos especializados é alto, e por isso as plantas apresentam curiosas estratégias para usá-lo de maneira eficaz.
Elas produzem essas defesas mesmo quando os herbívoros não estão por perto – mas em níveis baixos, como um “escudo de força” que fica sempre ativado, por precaução. Afinal, é importante que as plantas tenham alguma proteção para não serem facilmente surpreendidas pelos predadores.
Porém, ao sentirem que foram abocanhadas, elas disparam o alarme e investem alto na fabricação de substâncias tóxicas.
O manual da arte da guerra dos vegetais tem ainda outros segredinhos. Um sistema de vigilância, por exemplo – que entra em ação antes mesmo da primeira mordida. Funciona como um radar sempre em prontidão, que alerta sobre a proximidade de tropas ou esquadrilhas de insetos. Quando detecta um inimigo, a planta se antecipa e já reforça a produção de suas defesas químicas.
Como as plantas sentem a presença do inimigo se elas não têm olhos, ouvidos ou nariz? De fato, elas não possuem estruturas semelhantes a esses órgãos animais, mas são capazes de sentir o cheiro e som produzidos pelos seus maiores oponentes. O mecanismo exato de detecção desses sinais ainda é desconhecido, mas cientistas já sabem que a exposição a odores (como os feromônios sexuais) e sons ou vibrações (gerados pela mastigação, voo ou canto) produzidos pelos insetos herbívoros estimulam o sistema de defesa das plantas.
Nessa guerra entre plantas e insetos, também existem aliados. E os vizinhos “faladores” são os melhores! A planta sob ataque de insetos emite um cheirinho típico que anuncia a presença do inimigo aos vegetais vizinhos ainda não atacados. Assim, as plantas receptoras dessa mensagem química já preparam o seu arsenal químico para a batalha que se aproxima, pois o inimigo está por perto.
Agora, ao olhar suas plantinhas de casa, não se engane: elas são seres mais “inteligentes” do que imaginamos, principalmente, quando se trata da luta pela sobrevivência!