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Deriva Continental

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Um blog para terráqueos e terráqueas interessados no que aconteceu nos 4,5 bilhões de anos em que não estiveram por aqui. Feito pela Sociedade Brasileira de Geologia (SBG) em parceria com a Super.
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Rio Grande do Sul é o maior produtor de ametistas do mundo

As gemas são famosas pela coloração roxa. Entenda como elas se formam e o que faz do sul do Brasil uma região tão especial para as ametistas.

Por Andrea Bartorelli
Atualizado em 6 set 2024, 10h27 - Publicado em 13 Maio 2022, 17h23

Este é o décimo quarto texto do blog Deriva Continental, escrito por Andrea Bartorelli.

Em decorrência das ricas ocorrências de ametista e outros minerais associados aos derrames basálticos da Bacia do Paraná (Formação Serra Geral), o estado do Rio Grande do Sul se tornou destaque geológico internacional. Segundo dados da Agência Nacional de Mineração, no distrito mineiro de Ametista do Sul foram produzidas 4.700 toneladas de ametistas em 2017, o que torna o estado líder mundial da produção dessa gema. 

Mapa geológico com destaque para os basaltos da Formação Serra Geral, e depósitos sedimentares pré-basálticos no contexto da Bacia Sedimentar do Paraná.
Mapa geológico com destaque para os basaltos da Formação Serra Geral
(indicados em verde), e depósitos sedimentares pré-basálticos (indicados em rosa
escuro) no contexto da Bacia Sedimentar do Paraná. A extensa área amarela
corresponde a sedimentos cretáceos do Grupo Bauru, que recobrem parcialmente os
basaltos. Linhas pretas e vermelhas referem-se a grandes estruturas geológicas
regionais. Os dois principais distritos produtores de ametista e ágata estão assinalados
em roxo. (Geologia do Brasil/Divulgação)

A ametista é uma gema bastante comum e existem ocorrências em várias partes do mundo, porém nenhuma delas produz peças com a qualidade e intensidade de cor daquelas produzidas na fronteira do Brasil com o Uruguai.

Esse mineral – muito apreciado pela sua peculiar coloração roxa, brilho e dureza – é uma variedade de quartzo e, como tal, é um óxido de silício (SiO2). Eles aparecem como cristais alongados e com terminação em pirâmide, preenchendo cavidades arredondadas denominadas geodos. Os geodos possuem diâmetros que variam entre alguns centímetros até metros, sendo comuns peças pesando entre 200 e 300 quilos. No Rio Grande do Sul, um geodo de ametista atingiu o espetacular peso de 35 toneladas. 

Geodo de ametista.
Bonita drusa de cristais de ametista proveniente de Ametista do Sul, Rio
Grande do Sul, com ao redor de 10 cm de altura (Marcelo Lerner/Divulgação)
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Geodo de ametista.
Grandes geodos de ametista em depósito comercial de São Paulo. Ao
fundo avistam-se geodos com ametista queimada, de cor amarelo-citrino (Bartorelli/Divulgação)

Há referências de que na coleção do Imperador D. Pedro II, aficcionado por minerais, havia um único cristal de ametista com 80 cm de altura e 30 cm de largura. 

Os cristais de ametista apresentam em geral coloração arroxeada devido à presença de íons de ferro tetravalente (Fe4+), presentes em mínimas proporções nos cristais de quartzo. Nos geodos, a coloração mais intensa aumenta do centro para a terminação do cristal. Quando é aquecida a 475oC, a ametista adquire coloração amarela de citrino, até avermelhada, e recebe o nome local de “Topázio Rio Grande”. O valor da ametista no comércio de gemas varia conforme a intensidade da cor.

Além da ametista, também são encontrados nos geodos os minerais ágata, quartzo incolor ou “cristal de rocha”, quartzo róseo, calcita, apofilita, zeólitas, ônix, jaspe, opala, gipsita (selenita), barita e anidrita silicificada. 

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Os geodos de ametistas encontram-se nas rochas vulcânicas (basaltos predominantemente) da Formação Serra Geral que faz parte da Província Basáltica Continental Paraná-Etendeka. Essa província corresponde ao extravasamento de um volume colossal de lava, perto de 600 mil km3, ocupando uma área com mais de 1 milhão de km2, que se estende pelo continente sulamericano e africano, e que ocorreu entre 125 e 138 milhões de anos atrás. 

A origem desse volume significativo de lava está relacionado à atividade vulcânica ocorrida na plataforma Sul Americana-Africana, associada à quebra do supercontinente Gondwana e posterior abertura da porção sul do Oceano Atlântico. Na região de Presidente Epitácio, São Paulo, a espessura do pacote basáltico alcança 1.700 m.

Anterior ao episódio vulcânico, o supercontinente Gondwana, na sua parte central, encontrava-se afastado de qualquer oceano ou mar que pudesse trazer umidade. Na época, isso permitiu a formação de um grande deserto, onde existiam campos de altas dunas de areia fina, hoje preservada sob a forma de arenitos, que abrigam o Aquífero Botucatu, um dos maiores do planeta. Essas rochas são compostas essencialmente do mineral quartzo, de composição química similar àquela das ametistas (óxido de silício).

Os mecanismos de formação dos geodos de ametista ainda não são completamente compreendidos. Uma das hipóteses mais aceitas atualmente é explicada pela ação de fluidos aquosos (águas subterrâneas termais a 130ºC) enriquecidos em sílica (a possível fonte seria o arenito Botucatu), que percolariam as rochas basálticas preenchendo cavidades esféricas e fraturas, e precipitando os minerais ametista, calcedônia e calcita. Esse seria o resultado da interação de água e vapor com os basaltos, ocorrida entre 109 e 87 milhões de anos atrás, quando ocorria o vulcanismo de Tristão da Cunha que gerava calor na plataforma sulamericana. Segundo alguns pesquisadores, os minerais que precipitam em temperaturas altas (superiores a 100oC) se formaram durante o resfriamento da lava como as zeólitas e apofilita, enquanto que os de temperaturas mais baixas (inferiores a 100oC) como as ametistas, calcedônias e calcita se formaram com os basaltos já consolidados.

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Enquanto as ágatas são exploradas na região central do Rio Grande do Sul, no Distrito Mineiro de Salto do Jacuí, os principais depósitos de ametista encontram-se na região do Médio-Alto Rio Uruguai, no Distrito Mineiro de Ametista do Sul. Esse distrito abrange uma área de 500 km2, onde existem lavras garimpeiras desenvolvidas em galerias horizontais subterrâneas e, em menor escala, em cavas a céu aberto, com a maior produção concentrada em Ametista do Sul, Planalto, Iraí e Frederico Westphalen. O desmonte é feito com uso de explosivos e os geodos são removidos manualmente, com martelos e talhadeiras, para não os danificar. 

Novos e promissores jazimentos de ametistas foram indicados na região de Santana do Livramento, no sudoeste do Rio Grande do Sul, fronteira com Uruguai, provavelmente em continuidade da província gemológica de Los Catalanes, em Artigas, no Uruguai, conforme informe do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM) em 2021. 

Geodo de ametista.
Maravilhoso crescimento de cristais de calcita sobre placa de ametista,
procedente de Artigas, Uruguai, exposta em feira de minerais da Alemanha (Bartorelli/Divulgação)
Geodo de ametista.
Moldes sextavados de ametista, a qual recobriu grandes cristais de calcita, que foram
removidos em seguida por dissolução aquosa, resultando em “tubos ocos”. A
comparação com a foto superior permite verificar a existência de duas fases de
cristalização da calcita, uma anterior e outra posterior á formação da ametista. Amostras
procedentes de Artigas, Uruguai (Julio Landmann/Divulgação)
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A mineração de ametista, tanto nas regiões de fronteira do Rio Grande do Sul com o Uruguai como na divisa com Santa Catarina, surgiu casualmente, na década de 1940, quando caçadores e agricultores pioneiros encontraram os primeiros cristais sob raízes de árvores, em córregos e áreas cultivadas. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os cristais adquiriram grande valor comercial e o interesse pela sua exploração aumentou. Surgiram então os primeiros garimpeiros, que abriam poços para facilitar a retirada da ametista, aproveitando a declividade dos terrenos colinosos. Na década de 1960 foram utilizados tratores de esteira para a remoção da cobertura de terra e blocos que encobriam as jazidas de ametistas, aumentando consideravelmente a produção. Depois, passou-se à abertura de galerias e túneis subterrâneos escavados na rocha basáltica, iniciando um novo ciclo, quando os túneis chegaram a atingir algumas centenas de metros de comprimento.

Mina de ametista.
Galerias escavadas na rocha basáltica para mineração de geodos de
ametista. Os geodos concentram-se no nível do contato com um derrame superior de
basalto ácido, de coloração marrom amarelada (Bartorelli/Divulgação)

As gemas produzidas são produtos brutos, mas passam por um semi-beneficiamento, sendo a maior parte destinada ao mercado internacional sob a forma de peças marteladas, próprias para lapidação, ou como geodos cortados ao meio. O valor da ametista no comércio de gemas varia conforme a intensidade da cor, sendo a de tonalidade escura a de maior valor. A qualidade dos cristais também tem grande importância no valor de amostras “in natura”.

Segundo dados do relatório do inventário da mineração em pequena escala das gemas disponibilizados pelo Ministério de Minas e Energia em 2018, a maior parte da produção (95%) é destinada à exportação, sendo a China o maior comprador (70% do mercado consumidor), além de Índia, Tailândia, Estados Unidos, Europa e América Latina. O restante da produção (5%) é absorvida pelo mercado interno, notadamente a região sudeste. O centro de comercialização encontra-se em Soledade, no Rio Grande do Sul. 

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Saiba mais: 

MME Relatório do inventário da mineração em pequena escala das gemas. In: Diagnóstico Socioeconômico e Ambiental da Mineração em Pequena Escala no Brasil. MME, 2018. Disponível em https://antigo.mme.gov.br/documents/36144/471889/Produto+5.pdf/fdcff1b2-c0b2-5909-6dff-c3be19614a85. Acesso em abril 2021.

CORNEJO, C; e Bartorelli, A.Minerais e pedras preciosas do Brasil. São Paulo: Solaris Edições Culturais, 2010.

CPRM-ARIM. Programa geologia, mineração e transformação mineral: Áreas de Relevante  Interesse Mineral do Brasil (Minerais: Série Províncias Minerais do Brasil, no 29, Porto Alegre, 2020

FRANK, H.T. Gênese e padrões de distribuição de minerais secundários na Formação Serra Geral (Bacia do Paraná). Tese Dout. UFRS-IG, Porto Alegre, 2008.

JUCHEN,P.L., STRIEDER,A.J., HARTMANN,L. DUARTE,L.C. Geologia e mineralogia das gemas do Rio Grande do Sul. In: 50 anos de Geologia, Instituito de Geociências UFRGS.Jan. 2007. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/285188682_Geologia_e_mineralogia_das_ge mas_doRio_Grande_do_Sul.

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