Por que a faculdade de odontologia é separada da de medicina?
Tradição, basicamente. Mas a história completa é longa – e confusa.
Tradição, basicamente. Os primeiros dentistas eram barbeiros – sim, do tipo que cortam barba –, e arrancar dentes era considerado um serviço braçal.
Os dentistas de improviso dessa época – estamos falando do início do século 17, mais ou menos – eram essencialmente trabalhadores informais e não tinham nada a ver com os médicos, que já estavam se tornando profissionais especializados e ganhando cursos universitários próprios (a Escola de Medicina de Harvard, por exemplo, foi fundada em 1782).
Nessa época, D. Pedro I autorizou o exercício da odontologia enquanto uma profissão específica no Brasil. Mas a mudança ficou no papel, mesmo – na prática, nenhum dos barbeiros tinha dinheiro ou instrução suficientes para cursar uma faculdade de medicina, e não existiam faculdades específicas de odontologia.
Em 1862 houve a primeira mudança de fato: os dentistas autodidatas passaram a ser submetidos a uma prova oral teórica e outra prática antes de exercer a profissão. As provas eram aplicadas por professores de Medicina, especializados em Anatomia, Cirurgia ou Fisiologia e Higiene. Novamente, os dentistas eram tratados como apêndice da medicina, e não especialistas de fato.
Só 1884, no Rio de Janeiro e na Bahia, surgiram os primeiros cursos universitários específicos para a odontologia. A atividade se formalizou e os amadores saíram lentamente de campo. Esses cursos ainda eram tratados como apêndices do curso de medicina: compartilhavam professores, salas de aula e laboratórios.
Com o tempo, o caráter de ofício se perdeu e os dentistas se tornaram essencialmente médicos especializados na boca (no sentido de que o curso universitário é tão completo e formal quanto). A separação dos cursos, porém, ficou por força do hábito – herança da época dos barbeiros.
Os próprios dentistas resistem a se tornarem simplesmente médicos – até porque uma faculdade própria permite que eles se dediquem desde cedo às particularidades de sua especialidade, em vez de se enrolar estudando partes do corpo que não tem nada a ver com a boca.
Para o cirurgião-dentista Marco Manfredini, tesoureiro do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), uma graduação independente é importante para que os alunos tenham mais experiência prática e saiam preparados para atuar profissionalmente. “Você passa a ter mais horas de dedicação à odontologia. Nos primeiros anos o aluno já faz procedimentos em pacientes”, diz Manfredini.
Fontes: Uma História da Odontologia no Brasil, de Wander Perira; Marco Manfredini, cirurgião-dentista e tesoureiro do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP).
Pergunta de Beatriz Quesada, São Paulo, SP
Especialistas assinam documento de Senciência em Crustáceos, que afirma que esses animais sentem dor
Infográfico: em qual mês nascem mais pessoas no Brasil?
O que é o “ló” do pão de ló?
O que são – e onde estão – as “terras raras”?
Seu nome está no ranking? Saiba como explorar a nova plataforma Nomes do Brasil







