Por que o Braille não é as letras do alfabeto em alto-relevo?
Há muitas razões: as letras têm formas ambíguas e precisariam ficar muito grandes. Além disso, o Braille tem estratégias únicas para economizar espaço.
Porque elas são ambíguas ao tato. Imagine diferenciar a letra “O” da letra “Q”, por exemplo. Ou então, um “l” minúsculo de um “I” maiúsculo. Pior ainda: “rn” de “m” (esse encontro é tão confuso que mesmo os tipógrafos tomam cuidado na hora de desenhar o “r” e o “n” de uma fonte).
O Braille evita esses tropeços e permite que o cego reconheça cada letra com uma passada rápida de dedo em vez de forçá-lo a seguir o contorno de todas elas atrás de minúcias como a perninha do “Q”.
Ele também economiza grana – é mais fácil fazer pontos em relevo do que letras – e espaço, já que textos em alto-relevo precisariam ser enormes para ficarem legíveis aos dedos.
Afinal, pense no desafio de montar uma biblioteca em Braille: não basta pagar pelos livros transpostos a outro alfabeto, que são raros por si só. Eles também serão mais caros por causa das dimensões maiores e do material necessário para fabricá-los, que é mais dispendioso do que papel comum.
Por fim, o Braille é cheio de atalhos: há sets de pontos que representam sílabas ou palavras inteiras e aceleram a leitura. Isso é necessário para compensar o fato de que o tato é naturalmente mais lenta que a visão. Onde for possível substituir sílabas comuns (como “ção” ou “nhão”) por um símbolo só, tanto melhor.
Daniel Lavieri, São Paulo (SP), via e-mail