O ovo de galinha é formado por uma única célula?
Ele contém só uma célula – o gameta feminino não fecundado. Mas não é uma célula.
Você já sabe: mulheres produzem gametas chamados óvulos; homens produzem gametas chamados espermatozoides. Quando um espermatozoide fecunda um óvulo, as metades de material genético fornecidas por cada um dos pais se misturam e surge uma célula única – que então se multiplica e dá origem a um bebê (biólogos vão notar que, no ser humano, bem como em muitos mamíferos e aves, o óvulo não fecundado atende pelo nome de ovócito secundário – mas vamos evitar jargão).
O óvulo tem aproximadamente um décimo de milímetro, ou 100 micrômetros (μm). Dá para ver a olho nu, se você estiver com os óculos em dia. E embora seja algo minúsculo na escala humana, ele é imenso para os padrões de uma célula: os glóbulos vermelhos que transportam oxigênio no sangue, em comparação, tem 8 μm. A diferença de tamanho entre um óvulo e um glóbulo vermelho é proporcional à diferença de tamanho entre uma pessoa e um prédio.
Nas aves, como você também já sabe, o equivalente ao óvulo se desenvolve no interior de um invólucro cascudo chamado ovo – que é particularmente gostoso na frigideira. Além do óvulo em si, o ovo possui clara e gema com proteínas, carboidratos e lipídios, nutrientes necessários para o crescimento do bebê, já que ele não pode ser alimentado pela mãe.
Esses dias um leitor da SUPER – Marcos Schroeder – perguntou ao venerável Oráculo se, na verdade, o ovo de galinha é o óvulo. Se todo o ovo, em seus gloriosos seis centímetros, consiste em uma célula só. Seria a maior célula que existe, de longe. Ou melhor: só não seria maior que um ovo de avestruz. Essa sim, uma célula épica. Dá quase para ver do espaço.
Pena que a resposta é decepcionante: um ovo não fecundado de fato contém uma única célula – o gameta feminino. Mas é problemático pensar no ovo em si, com casca e tudo, como o gameta. Nas palavras do Oráculo: “Ele é um invólucro em torno do gameta, que servirá para proteger e alimentar o pintinho. O núcleo e as organelas do gameta – os componentes essenciais da célula eucariótica – ficam em um ponto da gema chamado disco germinativo. A gema em si tem uma espécie de continuidade com o disco germinativo. Por isso, algumas fontes (como o livro Molecular Biology of the Cell) mencionam a gema como a célula – o que a tornaria a maior célula que você já viu.”
Eu perguntei à Fernanda Almerón, mestre em biologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e de longe a pessoa que mais vezes salvou a minha pele em reportagens de biologia. Ela me disse mais ou menos a mesma coisa: “Pelo que eu entendi, quando o ovo não está fertilizado – ou seja, o ovo de supermercado –, a manchinha branca que fica em cima da gema seria a célula, que se tornará embrião.” A manchinha branca, no caso, é o já mencionado disco germinativo (também chamado de cicatrícula). “Porém, existem linhas de pensamento na biologia que enxergam a gema e a manchinha branca como uma única célula. Por isso, se diz que o ovo é uma célula gigante”.
Ou seja: dependendo do raciocínio, a gema pode entrar no rolo – ainda que, quando o óvulo fecundado começa a se desenvolver, as primeiras divisões celulares (clivagem) ocorram só no disco germinativo, e não na gema como um todo. O que com certeza não é parte da célula são os demais componentes (a clara, casca etc.). Esses são produzidos de fora pela mamãe galinha. Quem me confirma é a professora de embriologia Tatiana Montanari, também da UFRGS, que me pede para mencionar seu livro Embriologia: texto, atlas e roteiro de aulas práticas (2013) – veja aqui.
O que é o “ló” do pão de ló?
Para além de “It, a Coisa”: 5 livros de Stephen King para comprar na Black Friday
Seu nome está no ranking? Saiba como explorar a nova plataforma Nomes do Brasil
“Adolescência” pode ir até os 32 anos, indica estudo que descreve cinco fases do cérebro
Vídeo de lobo selvagem roubando armadilha pode ser primeiro registro de uso de ferramentas na espécie







