Um europeu da Revolução Industrial puxava até 16 horas por dia, de segunda a segunda. Isso dá 112 horas semanais. Ao longo do século 20 o padrão virou 48 horas – 8 por dia de segunda a sábado. Sempre fixado em lei: quem quisesse que um empregado trabalhasse mais que isso teria que pagar hora extra.
Aqui eram 48 horas até 1988. Já baixou para 44. A França chegou a 35 em 2000. Desse jeito, em teoria, os franceses poderiam trabalhar 8h45 durante 4 dias por semana e transformar a quinta na nova sexta. A ideia do governo era gerar mais empregos, pois mais gente teria de ser contratada para manter o nível de produção. As centrais sindicais brasileiras fazem campanha pela redução da jornada de 44 para 40 horas usando esse mesmo argumento. Mas não funcionou.
A economia francesa continuou patinando. Os empregos a mais não apareceram porque as pessoas foram obrigadas a produzir a mesma quantidade, só que em um tempo menor. Mas ainda há esperança! E ela provavelmente não vai nascer por uma mudança na legislação, mas das transformações tecnológicas. Hoje nós trabalhamos menos porque, graças a elas, uma pessoa do século 21 produz mais que uma do século 19 – seja numa tarefa braçal, seja numa intelectual. A tendência, enfim, é que esse ganho de produtividade continue.
Feriadão semanal
Se a quinta virar a nova sexta, não vai ser só festa
1. Terça-feira gorda
Seria duro manter a forma. “No fim de semana as pessoas procuram alimentos mais saborosos, que são mais ricos em gordura e carboidratos. E muitos acabam abusando”, diz a nutricionista Michele Trindade, da USP. Com um dia a mais, consumiríamos cerca de 1,16% mais calorias por semana. Pouco? Não: dá quase 1,5 quilo por ano.
2. Friday I’m in love
A indústria do entretenimento bombaria, de cinemas a motéis. Mas talvez não seja a hora de você largar o emprego e montar aquela pousada: com um dia útil a menos, você seria obrigado a pagar mais horas extras para suas camareiras trabalharem nos fins de semana de 3 dias. Aí a vantagem é das grandes empresas, com mais caixa.
3. Quarta-feira sem cinzas
O acúmulo de poluentes no ar diminuiria 15%. É que os congestionamentos seriam 4 vezes menores nas sextas, como acontece aos sábados. A economia de energia também seria clara. Os funcionários públicos de Utah, nos EUA, ganharam as sextas livres. E os gastos com energia por lá caíram 13%.
4. Embalos de sábado à noite
Metade do consumo de cerveja nos bares acontece de sexta a domingo. Com um dia a mais, o total de vendas subiria 15%. O problema é que o alcoolismo iria no mesmo pique. É o que aconteceu entre universitários americanos que escolheram fazer menos matérias por ano para tirar fins de semana de 3 dias.
5. Sunday, bloody sunday
A criminalidade aumentaria. Nas grandes cidades, metade dos assassinatos acontece nos fins de semana – que é quando tem mais gente de cara cheia na rua. Aí é só fazer as contas: com um dia a mais, os assassinatos aumentariam 8%. Isso significa quase 4 mil mortes a mais no Brasil a cada ano.
Fontes: Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo, National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism – NIAAA; Marcos Rodrigues Maximino, psiquiatra da Unifesp, Naércio Menezes Filho, economista do Insper e da USP Michele Trindade, nutricionista da USP.