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5 descobertas de Jane Goodall sobre os chimpanzés – e sobre nós

Por mais de 60 anos, Goodall trabalhou ativamente para conhecer a vida dos chimpanzés, preservar a natureza e garantir um melhor futuro para o planeta.

Por Manuela Mourão
Atualizado em 2 out 2025, 18h31 - Publicado em 2 out 2025, 18h03

Faleceu ontem, 1 de outubro, a etóloga e conservacionista Jane Goodall, cujo trabalho como primatologista nos ajudou a entender o comportamento e as emoções dos animais. Segundo o instituto que leva seu nome, a britânica de 91 anos morreu de causas naturais, em Los Angeles.

Considerada pioneira no estudo do comportamento de primatas, ela ficou mais conhecida por suas mais de seis décadas de pesquisa de campo sobre a vida social e familiar de chimpanzés selvagens no Parque Nacional Gombe Stream, na Tanzânia. Destes mais de 60 anos, Goodall passou cerca de 40 deles focada em uma preocupação crucial: a conservação da natureza.

Seus estudos de campo com chimpanzés quebraram barreiras para as mulheres e mudaram a forma como os cientistas estudam os animais. “As descobertas da Dra. Goodall como etóloga revolucionaram a ciência, e ela foi uma defensora incansável da proteção e restauração do nosso mundo natural”, afirmou o instituto em um comunicado.

Em homenagem a Goodall, listamos cinco das inúmeras descobertas feitas por ela.

1. Chimpanzés têm emoções e personalidades

Fotografia da Jane Goodall, primatologista, etóloga e antropóloga inglesa, com um chimpanzé nos braços, c. 1995.
(Apic/Getty Images)

Quando Goodall terminou os estudos escolares, ainda não tinha condições financeiras para iniciar uma vida acadêmica na área que lhe atraía, a etologia (pesquisas sobre comportamento animal). Por alguns anos, topou trabalhos como secretária e garçonete, economizando para conseguir iniciar seus estudos envolvendo os animais. Aos 23 anos, conseguiu juntar moedas suficientes para visitar uma amiga que morava no Quênia. 

Lá, Jane conheceu o paleoantropólogo Louis Seymour Bazett Leakey, que lhe ofereceu um trabalho no museu de história natural local. Na época, Leakey imaginava que estudos com chimpanzés, nossos parentes vivos mais próximos, poderiam revelar novas informações sobre a vida dos humanos ancestrais, que era especificamente o campo de estudos dele.

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Após um tempo no museu, Leakey decidiu que Jane seria uma boa adição ao time da Reserva de Caça Gombe Stream (atual Parque Nacional Gombe Stream) na Tanzânia, que estudava chimpanzés selvagens. Hoje, graças a Jane, a floresta de Gombe é o local com o maior e mais detalhado estudo de animais em seu habitat natural no mundo. 

O paleoantropólogo acreditava que a “paixão e o conhecimento de animais e da natureza, a alta energia e a coragem a tornavam uma ótima candidata para estudar os chimpanzés”. E que “a falta de treinamento acadêmico formal de Jane era vantajosa porque ela não seria enviesada pelo pensamento tradicional e poderia estudar chimpanzés com uma mente aberta”.

Dito e feito. Após algum tempo observando os grandes primatas de longe, Jane recebeu a permissão de um dos chimpanzés líderes para se aproximar. Logo, os demais chimpanzés do grupo aprovaram a sua convivência também. “Eles nunca tinham visto um macaco branco antes”, brincou Goodall em 2019.

A etóloga nomeou o líder do bando de David Greybeard. Na época, a comunidade de etologia viu a ação como imprópria: como uma mulher sem diploma ousava entrar em contato com os animais e dar nome a eles, em vez de simplesmente se referir aos bichos como números?

Acontece que foi exatamente essa proximidade e amor quase familiar pelos chimpanzés que fez Jane perceber que esses animais tinham emoções e personalidades próprias. Assim, conseguiu observar comportamentos de afeto entre a comunidade, como abraços, beijos e carinhos. Mas também constatou que chimpanzés poderiam ser agressivos quando queriam: viu fêmeas matando filhotes de outras para manter a dominância e machos iniciando guerras entre o bando.

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Fazendo parte do bando, Jane descobriu que os chimpanzés…

2. Não são vegetarianos

Fotografia da primatologista britânica Jane Goodall no recinto de chimpanzés do Zoológico de Taronga, em 29 de maio de 2014.
(Newspix/Getty Images)

Até os trabalhos de Jane, a comunidade de primatologistas acreditava que os chimpanzés eram animais vegetarianos. No entanto, após anos vivendo na floresta com esses animais, Goodall percebeu que, na verdade, estes macacos eram onívoros. Os primatas de Gombe Stream caçam, matam e comem macacos menores, especialmente os colobos.

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Foi observando os hábitos alimentares dos chimpanzés que Jane percebeu que…

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3. Eles usam e confeccionam ferramentas

Fotografia da Jane Goodall aparece no especial de televisão
(CBS Photo Archive/Getty Images)

Chimpanzés também gostam de comer cupins. Acontece que esses insetinhos desenvolveram seus mecanismos de defesa para escaparem do menu, como construir ninhos fechados, com entradas pequenas e um grupo de soldados preparados para a luta. Por isso, no documentário “Jane”, de 2017, Goodall diz que assistiu, fascinada, “enquanto os chimpanzés partiam em direção a um cupinzeiro, pegavam um pequeno galho com folhas e depois o arrancavam as folhas”. Os chimpanzés enfiavam os galhos arrancados no cupinzeiro e facilmente juntavam aglomerados de cupins para comer.

Em outros momentos, Jane observou folhas usadas como guardanapos e utensílios para beber água.

Além disso, Goodall ressaltava a modificação e adaptação de objetos para um uso mais adequado das ferramentas. “Aquilo foi uma modificação de objetos, o início rudimentar da fabricação de ferramentas – algo nunca visto antes.”

Quando a etóloga contou sua descoberta a Leakey, ele respondeu: “Agora, precisamos redefinir o conceito de ‘ferramenta ‘, redefinir ‘homem’ ou aceitar os chimpanzés como humanos.”

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A dúvida, no entanto, era: como esses animais aprenderam isso?

4. Chimpanzés ensinam os outros

Fotografia de Jane Goodall dando uma palestra.
(Bettmann/Getty Images)

Goodall percebeu que os filhotes tinham uma conexão forte com suas mães e que comportamentos eram reproduzidos a partir da observação das atitudes dos mais velhos pelos mais novos.

Era desse jeitinho que o uso de ferramentas chegava ao bando inteiro: as mães ensinavam seus filhos como usá-las, de maneira que esses ensinamentos eram passados de geração em geração e integrados na cultura local.

Comportamentos também entram em moda: como colocar grama na orelha e no bumbum para um grupo de chimpanzés da Zâmbia, algo documentado recentemente.

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Hoje, sabe-se também que a comunicação é extremamente complexa e específica entre os grupos desses animais. Alguns estudos mostram que algumas famílias possuem batuques específicos para passar mensagens em mata densa.

 

5. Preservar o planeta deve ser nossa prioridade

Fotografia de Jane Goodall discursa no palco do Fórum Global Bloomberg Philanthropies 2025.

Goodall visitou uma conferência sobre preservação pela primeira vez em 1986. Este foi seu ponto de mudança: “Fui ao evento como cientista. Saí como ativista”, explicou ela.

Jane percebeu que precisava levar sua mensagem para o mundo, em busca de um futuro melhor para todos os seres vivos do planeta.

“Foi chocante ver que em toda a África, onde quer que os chimpanzés fossem estudados, as florestas estavam desaparecendo”, disse ela. Goodall achava “bizarro que a criatura mais intelectual que já existiu no planeta esteja destruindo seu único lar. Parece-me que há uma desconexão entre essa mente extremamente intelectual e o coração humano, que é amor e compaixão.”

Seu bordão era o mesmo há anos: “O mínimo que posso fazer é falar por aqueles que não podem falar por si mesmos.” 

Agora, o mundo perdeu uma das maiores vozes da conservação animal. Mas seus ensinamentos continuam a nos inspirar a preservar o fascinante mundo natural. Descanse em paz.

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