Empresa usa inteligência artificial para inserir anúncios em filmes e séries
Tecnologia britânica identifica paredes, outdoors e até mesas de escritório – e escolhe os melhores lugares para colocar as propagandas.
Pode esquecer qualquer bloqueador de anúncio que você tenha no seu navegador. Alguns estúdios de TV e cinema estão recorrendo ao uso de inteligência artificial (IA) para inserir propagandas em produções que já foram gravadas.
Um exemplo é a 20th Century Fox, que usou o recurso em um episódio da série Modern Family. A revista New Scientist publicou um vídeo comparando duas versões de uma mesma cena: a original, sem propaganda, e uma com anúncios inseridos digitalmente. Veja abaixo:
Você deve estar pensando: propagandas em filmes e séries não são algo comum? Sim. O chamado marketing indireto (ou, em inglês, product placement), na qual produtos e marcas são colocados de forma sutil em cena, é uma técnica bastante difundida. Pois é: aquela lata de Coca-Cola, tênis da Nike ou computador da Sony que você viu não estavam ali por acaso.
A diferença é que, nesses casos, os produtos são colocados durante as filmagens. A nova tecnologia, desenvolvida pela empresa britânica Mirriad, permite que as marcas coloquem seus anúncios em programas que já foram gravados, desde pôsteres e cartazes, inseridos em prédios e paredes, até objetos 3D, como copos de café em uma mesa de escritório.
Nos EUA, a Mirriad já trabalhou, além da Fox, com estúdios como Univision, NBC Universal e Sony Pictures Television. Na Europa, a empresa tem parcerias com emissoras de TV na França e na Alemanha. Na China, mais de 100 milhões de usuários da plataforma de streaming Tencent Video já viram anúncios inseridos dessa forma.
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Tencent campaigns from mirriad on Vimeo.
Em outubro, a Tencent firmou uma parceria exclusiva de dois anos para usar o serviço da Mirriad. Anúncios da Luckin Coffee, rede de cafeterias cujos produtos dão as caras no vídeo acima, já apareceram mais de 100 vezes em 11 atrações da plataforma.
Como a tecnologia funciona?
A inteligência artificial da Mirriad trabalha em etapas. Primeiro, o algoritmo analisa todo o conteúdo audiovisual para reconhecer potenciais ambientes para receber uma propaganda: salas, ruas, elevadores, etc. Depois, ele cria um inventário para cada produção, com os cenários e momentos ideias para que o anúncio apareça.
“O objetivo é treinar o algoritmo para entender emoções, contexto e continuidade entre as cenas, para que o processo de inserção de anúncios possa ser totalmente automatizado”, disse à New Scientist Stephan Beringer, presidente-executivo da Mirriad. Se os planos da empresa se concretizarem, o próximo passo da tecnologia será criar anúncios personalizados – da mesma forma que recebemos no Facebook, por exemplo.
O que isso quer dizer? Na prática, significa que uma mesma cena pode aparecer com anúncios diferentes, dependendo do perfil de quem estiver assistindo – isso é decidido a partir das informações que o serviço de entretenimento possui de cada usuário.
Quais os problemas em torno disso?
Com a nova tecnologia, será preciso rever as regras existentes para product placement em produções audiovisuais. Afinal, como as propagandas personalizadas são colocadas após as filmagens, atores, diretores (e demais realizadores de filmes e séries) podem não endossar as marcas que irão aparecer.
Para resolver esse problema, a empresa também trabalha para que a tecnologia reconheça o rosto de artistas para identificar cenas em que determinados anúncios não podem aparecer. Outras críticas dizem respeito à barreira entre publicidade e entretenimento – que tende a se tornar mais sutil com o desenvolvimento de IAs similares.
Outros usos de IA
Atualmente, a indústria do entretenimento vem testando o uso de inteligência artificial para otimizar algumas tarefas. A 20th Century Fox, que já usa o sistema da Mirriad, desenvolveu um modelo de inteligência artificial para identificar as preferências do público ao assistir trailers de filmes para tentar prever as bilheterias de futuros longas-metragens.
A tecnologia foi desenvolvida em parceria com o Google Cloud e levou um ano e meio para ficar pronta. O estúdio começou a usá-la após a estreia de O Rei do Show, em 2017. A ideia é que, com a ferramenta, o estúdio faça análises mais precisas do que as pesquisas de público tradicionais.