Planeta deserto de “Duna” é plausível, dizem cientistas
Pesquisadores ingleses criaram um modelo climático de Arrakis, que teria menos CO2 e mais ozônio que a Terra. A temperatura média seria de 50ºC - mas, com ajuda da tecnologia, ela poderia se tornar suportável
Em cartaz desde o dia 29 de fevereiro, Duna Parte 2 conclui a adaptação da obra de Frank Herbert. Grande parte da história se passa no inóspito planeta Arrakis, conhecido como duna. Mas por mais quente e hostil que o planeta seja, um grupo de pesquisadores mostrou que ele poderia existir e ser até habitável.
A primeira vista pode até parecer só mais um planeta desértico, mas Arrakis possui algo que nenhum outro no universo da série possui. É lá, nas areias do deserto, que é produzida a especiaria chamada de mélange, o produto mais importante de todo o universo. É ela que possibilita as viagens espaciais, por exemplo.
A parte da especiaria em si (e, claro, dos vermes gigantes), ainda fica por conta da ficção, mas um mundo desértico como Arrakis seria plausível no mundo real? Pensando em responder essa pergunta, em 2021, pesquisadores da Universidade de Bristol e da Universidade de Sheffield, ambas no Reino Unido, decidiram construir um modelo climático em 3D do planeta deserto.
Tanto nos livros quanto nos filmes, Arrakis é descrito como um planeta extremamente hostil. Seus habitantes (os fremen), possuem hábitos quase só noturnos, a fim de evitar a exposição à luz solar durante o dia. Para simular como seriam as condições climáticas do planeta, os pesquisadores utilizaram como base o próprio planeta Terra.
Depois, eles coletaram as informações climáticas de Arrakis descritas na enciclopédia do universo de Duna, como topografia, informações climáticas do planeta etc.
Arrakis apresentaria algumas diferenças com relação à atmosfera do nosso próprio planeta. Primeiro, a concentração de CO2 na superfície seria menor. Enquanto na Terra encontramos 417 partes por milhão, em duna a concentração seria algo em torno de 350.
Mas o planeta deserto compensaria na quantidade de ozônio: ele representaria 0,5% dos gases da atmosfera de Arrakis, enquanto que na Terra é apenas 0,000001 %. Isso ajudaria a explicar o motivo de o planeta ser tão quente. O ozônio é 65 vezes mais forte para aquecer a atmosfera do que o dióxido de carbono, por exemplo.
Com todas as informações em mãos, ele renderizaram o modelo climático, que pode ser observado através deste link aqui.
O modelo mostra que o planeta desértico de Arrakis no mundo real seria um pouquinho diferente do que o descrito no livro. Na ficção, as regiões polares do planeta (onde ficam as principais cidades, como Arrakina), são os lugares onde o clima é um pouquinho mais ameno.
O modelo, mostrou, entretanto, que as regiões mais amenas do planeta ficariam na região dos trópicos. No verão, ou nos meses de climas mais quentes, as temperaturas atingiram cerca de 45ºC. Nos meses mais frios do inverno, as temperaturas não passariam de 15ºC.
Já nas regiões polares e de médias latitudes, a chapa iria esquentar bastante. Aqui os extremos seriam mortais, indo de 70ºC no verão a até -75ºC no inverno.
Isso porque, apesar de o sol atingir mais as regiões equatoriais, em Arrakis as regiões polares possuem mais umidade atmosférica e cobertura de nuvens altas. Isso provoca um efeito estufa, aquecendo ainda mais a região.
Outra importante diferença está na questão das chuvas. No livro é descrito que não há chuva no planeta, mas o modelo mostra que elas poderiam ocorrer, ainda que de forma bastante modesta. Elas ocorreriam principalmente em regiões de montanhas e planaltos, nas latitudes mais altas.
Mas os trópicos não estão isentos de problemas. Por lá a gente encontraria dunas com até 250 metros de altura, além de ventos fortes com grandes tempestades de areia.
Agora, a grande pergunta é: seria possível viver lá? Os pesquisadores mostraram que sim, ainda que fosse necessário depender de algum tipo de tecnologia para isso. Com uma temperatura média de 50ºC durante o ano, o planeta com certeza seria inóspito, mas ainda assim, habitável.
Nos livros, a principal tecnologia utilizada pelos personagens para sobreviver ao calor do deserto são os trajestiladores. Essas roupas foram criadas para manter o corpo refrigerado, mantendo a umidade do corpo, reciclando e filtrando todos os líquidos corporais – o suor, a respiração e até mesmo a urina.