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A relação inusitada entre a extinção dos dinossauros e o sucesso das uvas

Da próxima vez que saborear um vinho, saiba que milhões de dinossauros morreram para que você pudesse tê-lo

Por Isabela Lobato
1 jul 2024, 19h00

O trabalho de cientistas frequentemente é menos glamuroso e empolgante do que os filmes fazem parecer. Mas vez ou outra, todo cientista vive um momento de eureca!, de glória e aventura. A de Fabiany Herrera e Mónica Carvalho foi em 2022, quando os dois estavam realizando um trabalho em campo na Colômbia, nos Andes.

“Mónica olhou para mim e disse: ‘Fabiany, uma uva! E então eu olhei para ela e pensei: ‘Oh, meu Deus’. Foi muito emocionante”, lembra Herrera em nota ao Field Museum. Os dois haviam acabado de encontrar algo pelo qual Herrera procurava desde a sua graduação como geólogo, no final dos anos 90: a uva mais antiga do hemisfério ocidental.

 “As uvas têm um extenso registro fóssil que começa há cerca de 50 milhões de anos, por isso eu queria descobrir uma na América do Sul, mas era como procurar uma agulha em um palheiro”, diz Herrera, que é paleobotânico e principal autor do artigo publicado nesta segunda (01) na revista Nature

O fóssil estava em uma rocha de 60 milhões de anos, o que o torna não apenas o primeiro fóssil de uva da América do Sul, mas também um dos fósseis de uva mais antigos do mundo.

O pequeno bloquinho de rocha guarda uma história que explica como as espécies de uva vingaram após a extinção dos dinossauros, há cerca de 66 milhões de anos. “Sempre pensamos nos animais, nos dinossauros, porque eles foram os maiores afetados, mas o evento de extinção também teve um grande impacto sobre as plantas”, diz Herrera. “A floresta se redefiniu, de uma forma que mudou a composição das plantas.”

Segundo Mónica Carvalho, coautora do artigo e curadora assistente do Museu de Paleontologia da Universidade de Michigan, os gigantes jurássicos provavelmente mantinham a vegetação de seus habitats mais aberta do que hoje. Mas tudo mudou quando as plantas pararam de serem pisoteadas por animais de dezenas de toneladas.

Na verdade, os fósseis encontrados são apenas das sementes, já que o tecido mole raramente se fossiliza. A semente em si é minúscula, mas o olhar treinado de Herrera e Carvalho conseguiu identificá-la com base em sua forma, tamanho e outras características específicas. De volta ao laboratório, eles confirmaram a identificação por meio de tomografias computadorizadas que permitem visualizar a estrutura interna.

Fabiany Herrera (esquerda) e Mónica Carvalho (direita) no local da planta fóssil, segurando a uva mais antiga recém-descoberta do Hemisfério Ocidental.
(Fabiany Herrera/Reprodução)

A equipe encontrou fósseis de uvas na Colômbia, Panamá e Peru, com idades entre 19 e 60 milhões de anos. As sementes permitem contar a história da disseminação das uvas pelo ocidente, assim como as muitas extinções e dispersões pelas quais a família das frutas passou.

“O registro fóssil nos diz que as uvas são uma ordem muito resistente. É um grupo que sofreu muitas extinções na região da América Central e do Sul, mas também conseguiu se adaptar e sobreviver em outras partes do mundo”, diz Herrera. Ele acredita que estudos como esse podem ser valiosos para compreender padrões que agem crises de biodiversidade, como a que o planeta enfrenta atualmente.

Agora, você já tem outro papo pra puxar no almoço de fim de ano quando a sua família começar a discutir sobre uvas-passas no arroz. 

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