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Cocô fóssil de 14 mil anos é um dos restos humanos mais antigos das Américas

Arqueólogos mais conservadores consideram que a ocupação do Novo Mundo começou há 13 mil anos, mas fezes humanas petrificadas um milênio mais antigas contradizem essa versão.

Por Carolina Fioratti
Atualizado em 13 mar 2024, 10h52 - Publicado em 31 jul 2020, 16h29

Há cerca de 13 mil anos, no final da última Era Glacial, os primeiros seres humanos chegavam à América do Norte. Pelo menos, é o que a maioria dos especialistas defende desde a década de 1930, após terem sido encontrados artefatos, como pontas de lança, produzidos por humanos em uma caverna no Novo México (EUA) nessa época. Por muito tempo, o povo de Clóvis – nome dado à etnia desses pioneiros – foi considerado o primeiro a habitar o continente. Eles teriam atravessado o estreito de Bering, na época uma passagem de terra que conectava a Rússia ao Alasca, para chegar ao seu destino.

No entanto, esse pioneirismo tem sido constantemente contestado por pesquisadores que divergem do consenso. 

Um estudo realizado pela Universidade de Newcastle, na Inglaterra, constatou que fezes de 14 mil anos encontradas nas cavernas de Paisley, no Oregon (EUA), eram resultado do metabolismo humano – e que portanto pertenciam à indivíduos que chegaram à América antes do povo de Clóvis.

As amostras de cocô fóssil, denominadas coprólitos (lithos é “pedra” em grego, e kopros você já pode deduzir) foram encontradas em 2007. Os cientistas já haviam constatado a presença de DNA humano nelas, mas lidavam com a descoberta de forma cética. Eles acreditavam que os achados poderiam ser apenas excrementos de animais que foram contaminados por material genético de Homo sapiens. O motivo da preocupação é que, de tempos em tempos, se forma um córrego na caverna em que o fóssil foi encontrado – e essa água pode facilmente ter adulterado os coprólitos. 

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Para sanar as dúvidas, os pesquisadores de Newcastle aplicaram uma técnica que busca lipídios (que são, grosso modo, gorduras) nos coprólitos. Humanos e outros animais produzem tipos diferentes de lipídeos, e seria bem mais difícil contaminar as fezes com esse tipo de molécula do que com DNA. Calhou que, das 21 amostras de fósseis analisadas, 13 apresentaram resquícios de lipídeos humanos. Já a idade das fezes, de 14 mil anos, foi descoberta através da datação por isótopos de carbono

Apesar desses cocôs terem entrado para a lista de vestígios mais antigos da humanidade no Novo Mundo, outra descoberta recente indica que os seres humanos podem ter chegado à América do Norte muito (mas muito) antes disso. Pesquisadores da Universidade Autônoma de Zacatecas, no México, encontraram artefatos aparentemente produzidos por seres humanos em uma caverna chamada Chiquihuite que têm cerca de 33 mil anos.

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Apesar disso, os arqueólogos não encontraram sinais de DNA humano em nenhuma parte do local, o que torna o estudo controverso. O estudo da dispersão da espécie humana pelo planeta é sempre motivo de muita disputa entre especialistas, que sustentam teses radicalmente diferentes conforme os ossos e artefatos que analisam. Você pode conferir mais sobre o caso nesta matéria da SUPER.

A pesquisa de Newcastle não pretende apenas datar a chegada do homem ao continente. Os arqueólogos têm um projeto maior em vista, que busca entender o comportamento humano do período. “Queremos saber mais sobre as próprias pessoas. Era uma época em que o ambiente era muito diferente e mudava rapidamente. Queremos saber como eles se adaptavam a essa mudança, o que comiam e como isso mudou com o tempo”, explicou em comunicado Lisa-Marie Shillito, líder da pesquisa.

Até o momento, na questão comportamental, as fezes encontradas na caverna deram apenas algumas dicas quanto a dieta de nossos ancestrais. Ao que tudo indica, os humanos primitivos se alimentavam de plantas, sementes, roedores e, ocasionalmente, mamutes. Quem diria que um pedaço de cocô teria potencial para mudar os rumos da história. 

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