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Começo e recomeço

Para os hindus, a história é um grande círculo, em que todo fim embute um novo tempo

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h21 - Publicado em 26 Maio 2012, 22h00

Evanildo da Silveira

No cristianismo e em outras religiões ocidentais, o tempo é linear. No hinduísmo, há uma concepção cíclica do tempo. Como em um círculo, a vida e o mundo nunca acabam de fato. “Em geral as concepções religiosas de origem védica sustentam a eternidade do mundo e do universo. E os finais, que existem, são apenas novos recomeços”, explica o professor Edgard Leite, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), especialista em religiões da Índia. “O ‘mito do eterno retorno’ é característico das tradições religiosas e filosóficas indianas, assim como de muitos sistemas antigos. Na Índia, tudo sempre recomeça. Por exemplo, o grande destruidor, o deus Shiva, é, ao mesmo tempo, um grande construtor.”

Para os hindus, Brahma é o deus que criou o mundo, não só o material, regido por princípios físicos, mas também o interior, espiritual, dos pensamentos e sentimentos dos seres humanos. Na verdade, a coisa é um pouco mais sutil. Brahma não “criou” o mundo. Ele simplesmente fez todas as criaturas perceberem a sua existência. Outra característica do hinduísmo é que cada deus representa o aspecto de um deus único. Assim, ele cria o mundo como Brahma, o mantém como Vishnu e o destrói como Shiva.

Na cosmologia hindu, cada dia na vida de Brahma equivale a 4 bilhões de anos dos seres humanos. Apesar da enormidade desse tempo, que equivale quase à idade da Terra, que é de 4,5 bilhões de anos, ele representa apenas um ciclo na história do universo, conhecido como kalpa. Esse, por sua vez, é dividido em períodos menores, de 4 milhões de anos, chamados mahayugas. De acordo com os Puranas, um dos livros sagrados do hinduísmo, no fim de cada um dos mahayugas, a humanidade cairá no caos e na degradação moral. Haveria um tempo de perversidade, inveja e conflito.

Sempre que isso ocorre, Vishnu, que mantém a ordem no universo, se manifesta como um avatar que é enviado à Terra. O próximo (e supostamente o último) será Kalki, descrito como “um jovem magnífico cavalgando num grande cavalo branco com uma espada semelhante a um meteoro fazendo chover morte e destruição por todos os lados”. A Terra será incinerada e destruída, mas ressurgirá das cinzas. A vinda de Vishnu “restabelecerá a justiça na Terra, e a volta de uma era de pureza e inocência”, segundo os livros sagrados. O último avatar foi Buda, que veio ao mundo cerca de 4 séculos antes de Cristo. Kalki, portanto, deve demorar algum tempo para aparecer.

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