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Crânio de 1 milhão de anos pode recontar a história da espécie humana

Descoberto na China, fóssil foi reanalisado com técnicas digitais e revelou traços que podem antecipar em centenas de milhares de anos a origem do Homo sapiens.

Por Luiza Lopes
30 set 2025, 08h00

Um fóssil encontrado há mais de três décadas na China voltou ao centro do debate científico e promete reescrever parte da trajetória da nossa espécie. O crânio Yunxian 2, datado entre 940 mil e 1,1 milhão de anos, foi reanalisado com técnicas digitais de reconstrução e revelou traços que podem antecipar em centenas de milhares de anos a origem do Homo sapiens.

Descoberto em 1990 na província de Hubei, o crânio foi durante muito tempo classificado como Homo erectus, espécie considerada um ancestral direto dos humanos modernos. A má conservação do fóssil dificultava análises mais precisas, já que o osso estava bastante fragmentado. Com a ajuda de tomografias computadorizadas de alta resolução e modelagem tridimensional, cientistas conseguiram corrigir distorções e produzir a reconstrução mais fiel já feita desse exemplar.

Os resultados, publicados na revista Science, indicam que Yunxian 2 não pertence ao grupo de Homo erectus, mas sim ao chamado Homo longi, conhecido popularmente como “homem-dragão”. Essa linhagem, descoberta em 2021 a partir de outro crânio encontrado no nordeste da China, tem forte ligação com os denisovanos, espécie enigmática identificada até hoje apenas por fragmentos de fósseis e sequências de DNA.

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“Isso muda muito o pensamento, pois sugere que, há 1 milhão de anos, nossos ancestrais já haviam se dividido em grupos distintos, apontando para uma divisão evolutiva humana muito mais antiga e complexa do que se acreditava anteriormente. Isso praticamente dobra o tempo de origem do Homo sapiens”, disse o professor Chris Stringer, antropólogo do Museu de História Natural de Londres e coautor do estudo, ao The Guardian.

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O artigo mostra que Yunxian 2 apresenta uma morfologia em mosaico: combina traços primitivos típicos do Homo erectus, como a testa recuada e a arcada supraciliar robusta, com características mais avançadas, próximas do Homo sapiens, como a forma da face e da caixa craniana. A capacidade craniana estimada em 1.143 cm³ o coloca em um patamar intermediário, maior que a de erectus, mas menor que a de humanos modernos.

As análises filogenéticas, que comparam semelhanças e diferenças entre fósseis, situam Yunxian 2 como o membro mais antigo da linhagem do Homo longi, grupo que inclui também fósseis como os de Harbin, Dali e Jinniushan, todos encontrados na China. Segundo os autores, essa linhagem é a mais próxima do grupo Homo sapiens, o que sugere que a divergência entre nossa espécie, os neandertais e os denisovanos começou há cerca de 1,3 milhão de anos – muito antes da estimativa de 500 mil anos aceita até recentemente.

Isso implica que o ancestral comum de todos esses grupos pode ter vivido não na África, mas em regiões da Ásia Ocidental, hipótese que, embora ousada, ainda carece de confirmação com fósseis mais antigos. O próprio Stringer, em comunicado, ressalvou que “essas conclusões precisam ser testadas com novos achados, inclusive na África, onde certamente ainda há peças fundamentais dessa história”.

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O estudo também reforça que, nos últimos 800 mil anos, os humanos de grande cérebro se dividiram em apenas cinco grandes linhagens: Homo erectus asiático, Homo heidelbergensis, neandertais, Homo longi (incluindo os denisovanos) e Homo sapiens.

Essa organização ajudaria a resolver o que pesquisadores chamam de “confusão no meio”, a profusão de fósseis entre 1 milhão e 300 mil anos atrás que não se encaixavam claramente em nenhum ramo.

As conclusões, porém, devem gerar controvérsia. Aylwyn Scally, geneticista evolucionista da Universidade de Cambridge, disse à BBC que “é preciso ser particularmente cauteloso quanto às estimativas de tempo, porque elas são muito difíceis de fazer, independentemente das evidências que você esteja analisando, sejam elas genéticas ou fósseis”.

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“Esse quadro ainda é bastante obscuro para nós, então, se as conclusões dessa pesquisa forem apoiadas por outras análises, idealmente por alguns dados genéticos, acho que começaríamos a ficar cada vez mais confiantes sobre isso”, acrescentou.

No artigo, os cientistas reconhecem os limites atuais: como não há DNA preservado em Yunxian 2, a atribuição ao clado longi se apoia apenas em comparações anatômicas. Mesmo assim, o fóssil é considerado um registro-chave, possivelmente próximo do ancestral comum dos humanos modernos e de seus parentes extintos.

Se confirmada, a revisão cronológica terá implicações profundas. Significaria que a linhagem que daria origem ao Homo sapiens surgiu cerca de 1 milhão de anos atrás e que “proto-sapiens” já poderiam existir nesse período. Em outras palavras, a nossa história seria muito mais antiga e ramificada do que se imaginava até agora.

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