Endurance, navio do explorador Ernest Shackleton, é encontrado na Antártida depois de 107 anos
Embarcação histórica afundou no Mar Weddell em 1915, quando Shackleton e sua tripulação tentaram atravessar a Antártida a pé.
Em 1914, a Expedição Imperial Transatlântica deixou o Reino Unido rumo à Antártida com um objetivo ambicioso: o explorador Ernest Shackleton e os 27 homens sob seu comando queriam ser os primeiros a atravessar o continente gelado a pé.
A missão, porém, transformou-se em uma luta histórica por sobrevivência – que durou 22 meses e foi concluída com êxito pela tripulação depois que o navio Endurance se chocou contra o gelo no Mar de Weddell, ao leste da Península Antártica, e naufragou em 1915. A Super já narrou essa aventura, e você pode lê-la aqui.
Agora, o navio foi encontrado em condições excelentes de preservação a uma profundidade de 3.008 metros, segundo comunicado publicado nesta quarta (9) pela instituição inglesa Falklands Maritime Heritage Trust (FMHT), que patrocinou a expedição de busca.
O Endurance foi encontrado sete quilômetros ao sul da posição registrada com a ajuda de um sextante pelo capitão Frank Worsley (sextante é um instrumento para medir distâncias, símbolo da navegação marítima). Segundo John Shears, líder da expedição de busca Endurance22, a busca pelo naufrágio foi a mais desafiadora do mundo.
Uma tentativa anterior de encontrar o navio histórico aconteceu há três anos, em uma expedição de seis semanas chamada Weddell Sea Expedition 2019. Na época, muito gelo marinho cobria a região, o que causou a perda de dois veículos de busca submarina e obrigou o retorno da equipe para evitar que o navio quebra-gelo Agulhas II não ficasse preso.
A Endurance22 certamente se valeu das lições aprendidas em 2019, mas também teve o clima a seu favor: no mês passado, houve a menor extensão de gelo marinho da Antártida já registrada por satélites.
A missão partiu da Cidade do Cabo, na África do Sul, em 5 de fevereiro. Foi novamente realizada a partir de um Agulhas II e utilizou submersíveis chamados Sabertooth (“dente de sabre”, em inglês), operados remotamente pela equipe do navio. Foram duas semanas de busca em uma área predefinida, baseada nas coordenadas do capitão Worsley.
O arqueólogo marinho Mensun Bound, que faz parte da expedição, afirmou que este é “o melhor naufrágio de madeira” que ele já viu. O Shackleton apresenta pouca deterioração do casco e tem aparência semelhante àquela fotografada por Frank Hurley, que registrou a Expedição Imperial Transatlântica em 1914.
Os veículos de busca encontraram até botas e louças no navio, que exibe seu nome gravado na popa, como mostram as imagens abaixo. Desde a descoberta, a equipe se dedicou a fazer um registro detalhado do naufrágio.
The ship was found at a depth of 3,008m, about 7.5km southwards of the coordinates recorded by #Endurance skipper Frank Worsley. @Endurance_22 used Saab Sabertooth submersibles provided by @Ocean__Infinity to make the discovery and conduct the subsequent survey. pic.twitter.com/7PNXY7QtUX
— Jonathan Amos (@BBCAmos) March 9, 2022
Segundo a FMHT, o Endurance está protegido enquanto monumento histórico pelo Tratado Antártico. Então, nada foi retirado de lá durante a expedição, que também se dedicou a pesquisas científicas relacionadas ao Mar de Weddell.
A Endurance22 foi acompanhada de perto pela History Hit, que produziu a série recém-lançada Shackleton: The Story of Endurance – ou “Shackleton: A História do Endurance”, em tradução livre. A equipe também está filmando um documentário sobre a expedição, que será transmitido pela National Geographic ainda este ano.