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Por que artistas medievais desenhavam coelhos assassinos?

Coelhos com espadas, machados ou arcos lutavam contra (e até matavam) pessoas e cachorros em ilustrações de manuscritos do período. Entenda.

Por Luisa Costa
Atualizado em 18 abr 2022, 17h03 - Publicado em 18 abr 2022, 16h56

Esqueça o coelhinho da Páscoa. Deixe de lado a fofura vinda de olhos brilhantes e rabo de pompom. Agora, coloque um machado ensanguentado nas mãos do seu coelho imaginário. Pronto, você está próximo de uma representação medieval desse animal.

A versão assassina dos coelhos não é tão incomum para quem já assistiu a Monty Python e o Cálice Sagrado (1975). Uma cena do filme retrata, justamente, um coelho raivoso impedindo que Rei Arthur e seus cavaleiros entrem na caverna de Caerbannog – o que resulta na morte de três personagens:

Pode parecer uma situação ridícula, mas tem um pé na realidade: coelhos assassinos eram mesmo parte da cultura medieval. Eles aparecem em ilustrações de manuscritos dos séculos 13 e 15, que eram copiados por monges antes da invenção da prensa, que permitiu a impressão em massa de livros.

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Alguns dos livros feitos nos monastérios continham marginálias (ou “drôlerie”, em francês): pequenos desenhos decorativos feitos nas margens dos manuscritos. Eram esquisitos, para dizer o mínimo. Animais eram misturados entre si, cavaleiros carregavam suas cabeças nas mãos, mulheres dormiam com dragões… Existem até marginálias pornográficas, como na segunda imagem abaixo, que retrata uma colheita de pênis.

Montagem de duas imagens: à esquerda, tem-se coelhos caçando humanos e, à direita, duas freiras em uma colheita de pênis.
(British Library/Reprodução)

O coelho assassino era um dos personagens recorrentes das cenas que brincavam com os limites da vida real. Os animais apareciam com espadas, machados ou arcos e flechas nas patas, enquanto lutavam contra (e até matavam) aqueles que geralmente os caçavam – humanos ou cachorros.

As marginálias não tinham um único significado, mas costumam ser interpretadas como uma forma de humor subversivo, que existia no espaço limitado dos livros – até então produto de consumo de uma pequena parcela da nobreza europeia.

Os desenhos eram uma forma de escape da atmosfera dominante, de misticismo e seriedade, em um mundo inflexível como a sociedade feudal. Os artistas medievais podiam trabalhar com o cômico e o absurdo nessas ilustrações bizarras – que possivelmente serviam de entretenimento tanto aos leitores quanto aos monges que copiavam milhares de páginas. Tipo os desenhos que você fazia no caderno durante as aulas do colégio.

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