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Possível calendário mais antigo do mundo tem 12 mil anos e registrou queda de meteoro

Inscrições em Göbekli Tepe, na Turquia, podem ser as primeiras marcações da passagem do tempo feitas por humanos, afirma um novo (e polêmico) estudo.

Por Bruno Carbinatto
11 ago 2024, 14h00

Uma série de inscrições feitas num pilar de pedra de 12 mil anos podem ser o calendário mais antigo já registrado pela humanidade, argumenta um cientista em um novo estudo. As marcações foram encontradas em Göbekli Tepe, na Turquia, um dos sítios arqueológicos mais importantes do mundo – e uma das construções mais antigas já escavadas.

O estudo foi publicado na revista científica Time and Mind e é assinado somente por um pesquisador: Martin Sweatman, da Universidade de Edimburgo, na Escócia. A análise foca em um dos pilares específicos, que, sugere o cientista, não só funcionava como um meio de marcar a passagem do tempo, como também poderia ter registrado um evento histórico.

Nas inscrições da pedra, é possível notar algumas marcas em forma de “V” (veja acima). Segundo o estudo, são 365 delas – representando os dias do ano, agrupados em 12 meses que seguem o ciclo lunar mais 11 dias extras. Ou seja, um calendário do tipo lunissolar, que observa tanto o Sol quanto nossa Lua (entenda os tipos de calendários aqui).

O solstício de verão do ano aparece como um dia especial e separado, diz o artigo, representado por um “V” em volta do pescoço de uma criatura parecida com um pássaro. Próximas ao pilar foram encontradas outras estátuas com marcações de “V” semelhantes em seus pescoços, possivelmente representando divindades.

Considerando que o sítio arqueológico tem aproximadamente 12 mil anos, esse seria o exemplo mais antigo de um calendário já encontrado, precedendo os demais por milhares de anos. Até por isso, a conclusão extraordinária do estudo não deve ser aceita como fato tão facilmente pela comunidade científica sem mais questionamentos.

Os calendários mais antigos que temos certeza da existência são da Idade do Bronze, que começou há cerca de 3 mil a.C. Isso porque, após a invenção da escrita, civilizações do chamado “Oriente Próximo”, como na Mesopotâmia e Egito, passaram a registrar com mais precisão e complexidade a passagem do tempo. Göbekli Tepe, na Turquia, foi habitado muito antes, entre 10.000 a.C. e 8.000 a.C., mais ou menos.

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Anteriormente, outras inscrições da Pré-História, que precedem a escrita, já foram apontados como possíveis registros da passagem dos dias em sítios arqueológicos da Escócia e Bulgária, por exemplo, mas mesmo esses não são tão antigos como o novo possível achado.

O primeiro apocalipse registrado?

Tem mais: o estudo diz que não só o calendário foi o pioneiro como registrou também um outro evento histórico – a possível queda de um meteoro na Terra. Esse fragmento de um cometa (ou talvez vários fragmentos distintos) teria atingido a Terra há 13 mil anos – ou 10.850 a.C., segundo estimativas mais recentes –, talvez causando mudanças climáticas, incluindo uma mini-era do gelo, que podem ter tido impacto direto no modo como humanos viviam.

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Segundo o estudo, o calendário primitivo teria sido criado justamente para registrar a data que esse evento significativo aconteceu, como uma espécie de memorial.

Só tem um problema: nem todos os cientistas concordam que tal queda de meteoro realmente aconteceu. O debate sobre a validade desse evento, e, principalmente, do escopo das possíveis consequência dele, é bastante aquecido na comunidade científica, devido às poucas evidências encontradas. 

Sweatman, o autor do novo estudo, está no time de quem defende a “hipótese de impacto no Dryas recente”, ou seja, essa ideia de que o cataclisma rolou sim. Não só: já argumentou, em artigos nos últimos anos, que o evento foi o responsável por causar mudanças profundas na humanidade, como a própria invenção da agricultura, graças às mudanças climáticas que existiram. 

Ou seja: se só a afirmação de que as inscrições encontradas são um calendário já causaria polêmica, tentar relacioná-lo com um evento astronômico que ninguém sabe com certeza se aconteceu adiciona ainda mais uma camada de complexidade nas conclusões do estudo.

Mesmo assim, Sweatman está confiante em seus resultados: “Parece que os habitantes de Göbekli Tepe eram observadores atentos do céu, o que é de se esperar, já que seu mundo foi devastado por um cometa”, diz. “Este evento pode ter desencadeado a civilização ao iniciar uma nova religião e motivar desenvolvimentos na agricultura para lidar com o clima frio. Possivelmente, suas tentativas de registrar o que viram são os primeiros passos em direção ao desenvolvimento da escrita, que viria milênios depois.”

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Göbekli Tepe

Göbekli Tepe, o local onde o possível calendário foi encontrado, é um dos sítios arqueológicos mais importantes – e intrigantes – do mundo. Ele é formado por uma complexa série de estruturas que funcionam provavelmente como templos; há vários desenhos e inscrições gravadas em pilares e paredes do lugar. 

O mais interessante é que ele data do século 10 a.C., ou seja, há mais de 12 mil anos, um período da história conhecido como Neolítico Pré-Cerâmico. Nessa época, os humanos ainda não tinham inventado a agricultura, e viviam um estilo de vida nômade, caçando animais e coletando comida da natureza. 

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Por isso mesmo o sítio era interpretado como uma espécie de santuário pelos primeiros arqueólogos que o estudaram, um local com caráter religioso e ritualístico em que pessoas iam e vinham, mas não ficavam. O consenso mais recente, porém, é que havia sim uma população permanente em Göbekli Tepe, já que foram encontradas construções domésticas, estruturas para o armazenamento de água e ferramentas ligadas à vida cotidiana. 

Isso, de certa forma, mudou a forma como pensamos as populações pré-históricas. Que outros segredos o local esconde? Talvez revolucione também nosso entendimento sobre quando começamos a registrar o tempo.

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