Correr é contagioso, diz estudo
A velocidade, a distância e a frequência das corridas dos seus amigos podem definir o quanto você vai se exercitar.
Eu não te conheço. Esse texto está sendo escrito do vigésimo andar de um prédio na Zona Oeste de São Paulo, talvez há milhares de quilômetros de onde ele está sendo lido – mas, se você tem o hábito de correr, eu talvez saiba algo sobre você. Já parou pra pensar como você começou com esse hábito? Eu tenho um palpite: foi por causa de um amigo, ou conhecido. O motivo da adivinhação é simples. Pesquisadores do MIT estão cravando que correr é, assim como a gripe, contagioso.
A afirmação não é sem embasamento. Os envolvidos na pesquisa passaram cinco anos analisando dados de mais de um milhão de atletas inscritos em uma rede social de corrida (daquelas em que você compartilha com os seus seguidores os dados sobre a duração e o percurso do seu exercício), e ainda estudou 3,4 milhões de conexões entre os corredores estudados. Os resultados mostraram que ter amigos que correm é essencial para que você comece a correr, continue correndo e corra ainda mais.
Para exemplificar como isso funciona, os pesquisadores começaram a procurar uma situação específica, que se repete constantemente ao redor do planeta. Eles observaram como pessoas conectadas reagem frente a amigos distantes. Por exemplo: as chances de um corredor sair para uma volta durante um dia chuvoso em São Paulo aumentam caso ele tenha visto as estatísticas de uma colega carioca, que aproveitou o solzão de Copabana? A resposta foi sim. Os estudiosos refizeram essa mesma situação com milhões de casos diferentes e perceberam que um clima excepcionalmente bom para correr em uma cidade, pode incentivar pessoas a milhares de quilômetros dali.
Os impactos são mensuráveis. A cada 1 km corrido a mais pelo amigo influenciador, o influenciado em questão corre mais 300 metros. A velocidade aumenta 30% quando o amigo corre mais rápido. A duração do exercício é afetada – a cada 10 minutos a mais corridos por um, o outro adiciona 3 minutos à sua média. E até mesmo o gasto calórico sofre influência: a cada 10 calorias queimadas pelo colega, o contagiado queima 3,5.
Os pesquisadores ainda descobriram que essa influência atinge grupos de formas diferentes. Geralmente, homens são influenciados tanto por homens quanto por mulheres – mas mulheres só são influenciadas por pessoas do mesmo sexo.
Ninguém sabe muito bem por que isso acontece, mas tudo leva a crer que é a soma de dois fatores: 1- a motivação, de ver pessoas conseguindo alcançar novos limites físicos, e considerando que, se eles conseguem, você também conseguiria. E 2- a competitividade, que não deixa você correr menos do que aquele seu amigo que, com certeza, não é tão bom quanto você.
Mas, assim como uma gripe, a corrida também cria em nós uma espécie de sistema imunológico de influências. Conforme o tempo passa, as pessoas tendem a se acostumar e são menos impactadas pelos corredores contagiantes. O ideal é que a influência perca o efeito depois que você já saiu do sedentarismo – até por que, de acordo com um outro estudo (esse lá de 2012) todo ano 5,3 milhões de pessoas morrem por não fazer exercícios. Se você ainda não levantou do sofá hoje, é melhor correr…