Covid: pessoas que recusam a vacina tendem a sofrer discriminação
Estudo revela que os vacinados veem falta de inteligência, de senso de cooperação e até oportunismo nos indivíduos que fecham os olhos para a ciência.
Microchips implantados em nosso organismo pela vacina contra o coronavírus é uma das fake news mais bizarras ligadas a essa necessária imunização. Mas, você sabe, há outras. A de que a vacina seria experimental e quem tomasse se tornaria cobaia dos laboratórios. A de que o imunizante teria efeitos colaterais piores do que as consequências da Covid. A de que provocaria doenças…
Em uma de suas lives dedicadas a espalhar desinformação, o ex-presidente Jair Bolsonaro chegou a insinuar que quem se vacinasse poderia contrair HIV, o vírus que provoca aids. Ou virar jacaré… mas nessa ninguém acreditou. Bom, tomara.
O fato é que por ideologia ou obscurantismo, muita gente se negou a levar a picadinha da vacina contra o coronavírus. Além do risco de morrer, essas pessoas agora estão sendo discriminadas por quem, com a ciência ao lado, teve o bom senso de ir até o posto de vacinação.
É o que revelou um estudo recente publicado na Nature, que procurou investigar a extensão da intolerância entre pessoas vacinadas e não vacinadas contra a Covid. Os pesquisadores descobriram que, na maioria dos países, os vacinados exibem atitudes negativas em relação aos que admitem não ter se vacinado.
Foram três estudos que abordaram mais de 15 mil pessoas de 21 países. Os autores usaram pesquisas destinadas a medir a discriminação expressa de três formas: afetiva (emoções negativas em relação a um grupo), cognitiva (estereótipos negativos) e atitudinal (apoio à exclusão e remoção de direitos, como aprovar a decisão de casas de show que não permitem a entrada de gente sem comprovante de vacinação).
Com exceção da Hungria e da Romênia, o estudo mostrou que as pessoas vacinadas expressaram atitudes discriminatórias em relação às não vacinadas em todos os países. Os pesquisadores descobriram que muitas pessoas vacinadas não gostariam que seus parentes próximos se casassem com alguém que não foi vacinado (um exemplo de expressão afetiva). Eles também tendiam a perceber os não vacinados como menos inteligentes (expressão cognitiva).
Os autores do estudo concluíram que a extensão das atitudes discriminatórias (muitos dos pesquisados até gostariam que os não vacinados perdessem seus direitos de cidadania) foi maior em países com maior confiança social (onde os indivíduos eram mais propensos a concordar com a afirmação “pode-se confiar na maioria das pessoas”) e uma cultura de cooperação mais forte.
A conclusão foi de que, em países com sentido de dever cívico acentuado e responsabilidade individual para com o bem comum, as pessoas que se beneficiam do esforço coletivo (a imunização em massa que restringe a ação do vírus) sem contribuir com a sua parte são percebidas como “caronas”. Gente que não pega Covid graças à diminuição do alcance da doença mesmo assumindo colocar em risco seus pares e a sociedade em geral.