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O que é a “doença da urina preta”, com mais de 40 casos no Amazonas

Ela causa lesões nos músculos e nos rins, pode matar - e está associada a uma toxina presente em peixes.

Por Carolina Fioratti
1 set 2021, 16h45

Desde o dia 22 de agosto, uma série de pacientes de Manaus foram diagnosticados com rabdomiólise, uma síndrome que envolve a degradação do tecido muscular esquelético – responsável pela locomoção e demais movimentos do corpo. Até a última segunda-feira (30), haviam sido notificados 44 casos, 34 deles na cidade de Itacoatiara, a 176 quilômetros de Manaus. Os outros registros ocorreram em Silves, Manaus, Parintins, Caapiranga e Autazes. 

O problema parece estar associado à doença de Haff, popularmente conhecida como doença da urina preta, que teve seu primeiro surto registrado em 1924. Os primeiros casos, que incluíam a rigidez muscular dos pacientes acompanhada de urina escura, ocorreram na região litorânea de Königsberg Haff, junto à costa do Mar Báltico. Nos nove anos que seguiram o episódio, ocorreram outros pequenos surtos, afetando cerca de mil indivíduos. Percebeu-se um padrão: a doença ocorria de forma sazonal, no verão e no outono, e surgia sempre após a pessoa ingerir peixes ou crustáceos. 

Os enfermos não apresentam febre após o consumo dos pescados, mas têm dores de cabeça, dores musculares intensas e escurecimento da urina, que ficava de uma cor similar a do café. Esse ponto levou os cientistas a suspeitarem que a doença estava sendo causada por uma toxina presente nos pescados, a qual nunca foi identificada. Essa toxina não tem cheiro, não interfere na coloração do produto e, o pior de tudo, não parece ser eliminada após o cozimento. Pacientes infectados de Manaus relataram ter consumido pirarucu, tambaqui, pacu e pirapitinga.

Os cientistas não sabem dizer como o pescado adquire a toxina, mas suspeitam que seu surgimento esteja ligado a mudanças no ecossistema, desde a presença de toxinas de cianobactérias, que chegam ao peixe pela cadeia alimentar, até a existência de metais pesados nos rios e lagos. Mesmo assim, as autoridades do Amazonas não recomendam que o peixe seja excluído das refeições. Os pescados são a base da dieta da região, e sua exclusão teria impactos econômicos e nutricionais. Além disso, há relativamente poucos casos da doença, e não há como saber qual alimento contém a toxina.

Não é a primeira vez que o Brasil registra casos do tipo. A doença deu as caras por aqui entre 2008 e 2009, causando seu maior surto em 2017, quando foram registrados mais de 70 casos de intoxicação no estado da Bahia. O problema não costuma evoluir para quadros graves, mas isso pode acontecer – e há casos de morte por doença de Haff. Isso porque a condição pode envolver não só a destruição de musculatura dos membros e abdômen, por exemplo, mas também a própria musculatura cardíaca. A toxina também afeta os rins, podendo causar insuficiência renal.

O diagnóstico é feito no próprio consultório médico com base nos sintomas e na confirmação da ingestão de pescados nas 24 horas anteriores. Para o tratamento, os médicos recomendam o consumo abundante de líquidos, que ajudam a diminuir a concentração de impurezas no sangue. Também fica contraindicado o uso de medicamentos capazes de lesionar ainda mais os músculos e rins, como os anti-inflamatórios. Em casos graves, pode ser necessário hemodiálise, procedimento no qual uma máquina filtra e limpa o sangue. 

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