Texto Verena Ferreira
É a capacidade de perceber e dar nome a cada uma das notas que chega ao seu ouvido. E não estamos falando só de música: também vale sons vindos de buzina, chiados da natureza, vozes de animais, barulhos de máquinas… A explicação para esse dom não está no aparelho auditivo, mas na cabeça.Quem tem ouvido absoluto possui mais capacidade de receber e interpretar estímulos do lado esquerdo do cérebro, onde os sons são processados. “Neles, essa região é ainda mais ativa que em músicos”, diz Mauro Muszkat, neurologista da Unifesp.
Uma em cada 10 mil pessoas tem essa habilidade, mas os especialistas não sabem explicar ao certo por que ela ocorre. Alguns acham que é uma característica herdada geneticamente. Outros, que é um talento desenvolvido com muita dedicação e treino. Há os que acreditam, ainda, que todos nós nascemos com essa habilidade, mas, se não a utilizamos, a perdemos.
Apesar de se manifestar normalmente em músicos, leigos também podem ter ouvido absoluto. Nesse caso, as respostas são sensoriais: ele terá facilidade em armazenar e codificar tons e saberá instintivamente encontrar as notas em um instrumento, mesmo sem saber o nome delas.
Ruído para os ouvidos
Quando um ouvido absoluto faz a diferença
Jimi Hendrix
Sem grana para comprar um diapasão, ele foi a uma loja, dedilhou um instrumento aberto e afinou seu primeiro violão depois, em casa. No começo da carreira, aprendia todo o repertório de uma banda nova ouvindo as músicas uma única vez.
Mozart
Aos 5 anos ele já tocava piano e compunha melodias inteiras. Seu pai, exigente, o obrigava a estudar sem parar. Seu ouvido absoluto lhe permitiu classificar o grunhido de um porco: era um sol sustenido.
João Gilberto
Parte do seu mau humor vem de seu ouvido absoluto. Supersensível, João não tolera celular, cochichos na platéia, ar-condicionado barulhento ou caixas de som desreguladas – por isso mandou trazer técnicos do Japão para seus últimos shows no Brasil.
Hermeto Pascoal
Quando era criança, transformava panelas, bacias com água e penicos em instrumentos afinadíssimos. Em um de seus discos, Hermeto deu uma de Mozart e utilizou porcos para criar novas sonoridades.