Respirar fumaça de caminhões pode alterar momentaneamente as conexões cerebrais
Exposição ao gás liberado por veículos a diesel diminuiu a conectividade cerebral dos voluntários de estudo
Um estudo realizado por pesquisadores da University of British Columbia e da University of Victoria, ambas no Canadá, mostrou que respirar níveis cotidianos de poluição gerada por veículos a diesel pode prejudicar a função do cérebro humano em poucas horas.
Para o estudo, os pesquisadores expuseram brevemente 25 adultos saudáveis, com idade média de 27 anos, a gás de exaustão de diesel e ar filtrado em momentos diferentes em um ambiente controlado de laboratório. Eles também mediram a atividade cerebral antes e depois de cada cenário usando ressonância magnética.
Os pesquisadores analisaram mudanças na rede cerebral padrão, um conjunto de regiões cerebrais conhecida por ser mais ativa quando buscamos uma lembrança ou temos momentos de introspecção. Os exames revelaram que os participantes diminuíram a conectividade funcional nessas regiões após duas horas de exposição ao gás de escapamento de diesel – o que não aconteceu quando respiraram o ar limpo.
“Embora sejam necessárias mais pesquisas para entender completamente os impactos funcionais dessas mudanças, é possível que elas prejudiquem o pensamento ou a capacidade de trabalho das pessoas”, diz a neuropsicóloga Jodie Gawryluk, uma das pesquisadoras do estudo, que também afirma que alterações na conectividade funcional da rede padrão tem sido associada a desempenho cognitivo reduzido e sintomas de depressão.
Felizmente, as mudanças sentidas pelos participantes do estudo não foram permanentes; as condições deles voltaram ao normal depois da exposição. Mesmo assim, as descobertas são um alerta para a possibilidade da exposição crônica à poluição do ar afetar negativamente o cérebro. Com 99% da população mundial respirando ar poluído, as consequências para a saúde podem ser bem graves.
“Por muitas décadas, os cientistas pensaram que o cérebro poderia estar protegido dos efeitos nocivos da poluição do ar”, afirma o médico respiratório Chris Carlsten, primeiro autor da pesquisa. “Este estudo, que é o primeiro desse tipo no mundo, fornece novas evidências que sustentam uma conexão entre a poluição do ar e a cognição”.
O estudo atual baseou-se apenas na fumaça do escapamento dos carros, mas os pesquisadores afirmam que podem haver outras formas de poluição do ar que ajam mais rápido e com efeitos piores.
“A poluição do ar é agora reconhecida como a maior ameaça ambiental à saúde humana e estamos vendo cada vez mais os impactos nos principais órgãos”, diz Carlsten. “Creio que veríamos impactos semelhantes no cérebro com a exposição a outros poluentes, como fumaça de incêndios florestais. Com o aumento da incidência de distúrbios neurocognitivos, é uma consideração importante para autoridades de saúde pública e formuladores de políticas”.