A curiosa floresta circular do Japão que nasceu de um experimento dos anos 1970
O local viralizou em 2018, quando diversas teorias surgiram para explicar a disposição das árvores.
A província de Miyazaki fica localizada em Kyushu, a mais ao sul das quatro maiores ilhas do Japão. No total, tem um milhão de habitantes. E não: nenhum deles é o Hayao Miyazaki (o diretor de A Viagem de Chihiro nasceu em Tóquio, mesmo).
Há seis anos, em 2018, um trecho de floresta próximo à cidade de Nichinan, em Miyazaki, viralizou na internet. Tratava-se de uma plantação de cedro-japonês, árvore que é símbolo do país, onde é conhecida como sugi.
Até aí, nada demais. Há diversas plantações de sugi, já que sua madeira é bastante usada para móveis, caixas e construções leves. A diferença é que, no caso de Nichinan, as árvores estão dispostas em dois conjuntos de círculos concêntricos. Parece algo saído diretamente do filme Sinais (2002), do M. Night Shyamalan.
Ufólogos e entusiastas de teorias da conspiração fizeram a festa na época. Seriam os círculos uma marca deixada por alienígenas em solo nipônico? Ou ainda um vestígio de alguma civilização milenar?
Nada disso, claro. Mas a história verdadeira não deixa de ser interessante.
Tradicional produtora de madeira, Miyazaki precisou se adaptar a mudanças no mercado ao longo do século 20. A região costumava plantar árvores que cresciam mais espalhadamente e eram usadas para construir barcos. Com o tempo, essa demanda caiu, e o lugar se voltou para o tipo atual de cedro.
Para se adequar à crescente procura da construção civil por essa madeira, os cultivadores viram que seria necessário tornar as plantações mais densas (ou seja, mais árvores por quilômetro quadrado). Mas havia uma dúvida: qual seria uma margem segura de adensamento, que não comprometesse o crescimento das plantas?
Foi então que, em 1973, começou um experimento científico de “silvicultura experimental” (silvicultura, vale dizer, é o manejo de árvores e florestas), que envolveu plantar cedros em anéis concêntricos por ali.
Cada anel recebeu 36 mudas, divididas em intervalos de 10 graus (uma circunferência, afinal, tem 360 graus). Como os anéis inferiores têm um diâmetro menor que os exteriores, as plantas mais próximas do centro ficaram dispostas em uma área mais densa; as mais distantes, numa porção menos densa.
A ideia do experimento era durar 50 anos (só para atingir um estado mais maduro, os cedros precisam de pelo menos dez). Mas já foi possível observar os resultados do estudo bem antes disso.
As árvores que cresceram mais próximas ao centro dos círculos ficaram até 5,3 metros menores que seus pares mais afastados. Faz sentido: em um espaço reduzido, água e luz solar podem se tornar recursos mais escassos, o que afeta diretamente no desenvolvimento do plantio.
A expectativa era de que, ao final do prazo de 50 anos, as árvores (descritas como “círculos misteriosos” pelas próprias autoridades japonesas, devido à fama que conquistaram) fossem cortadas. Mas 2023 passou e elas continuam por lá – dá para ver a floresta circular pelo Google Maps:
Quem sabe o governo local decida preservá-las, transformando o espaço numa atração turística. O lugar tem de tudo para virar cenário de um filme do Studio Ghibli, do xará Miyazaki, você não acha?