Moradores de cidades grandes podem ser mais altruístas do que se imagina
Experiência feita em 24 cidades britânicas revela: o ato de ajudar o próximo é tão comum nas metrópoles quanto em locais menores.
Você já deve ter pensado, ao caminhar pelo centro de uma cidade grande, que cada pessoa ali só estava interessada apenas no próprio umbigo. Por outro lado, ao passar as férias em uma cidadezinha interiorana, pode ter se encantado com o fato de todos os frequentadores e funcionários do mercado central agirem como velhos conhecidos. Essa ideia está enraizada, mas um estudo realizado pela University College London (UCL) quebra esse estereótipo ao mostrar que os moradores de grandes cidades podem sim agir de forma altruísta em proporções iguais ou até maiores do que aqueles que vivem em regiões com baixa densidade demográfica.
Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores passaram três anos analisando o comportamento de moradores de 24 cidades britânicas – 12 grandes e 12 pequenas –, das quais estudaram 37 bairros no total. Eles queriam investigar quantas pessoas estariam dispostas a ajudar o próximo, então armaram três situações: na primeira, deixariam cartas endereçadas perdidas pelas ruas ou nos para-brisas de carros com o bilhete “Você poderia enviar isso para mim, por favor?”; na segunda, os próprios integrantes do grupo ficariam a cinco metros de uma pessoa e deixariam seus cartões caírem no chão. Os cientistas poderiam solicitar ajuda ou não; por fim, os pesquisadores deveriam tentar atravessar a rua para ver se os motoristas dariam passagem.
No total, foram 1.367 situações organizadas, das quais alguém ofereceu ajuda em 643 (47%) delas. Das 879 cartas largadas nas calçadas e para-brisas, 485 (55,1%) foram posteriormente enviadas. Das 398 vezes em que alguém derrubou um item, 130 (32,7%) delas apareceu outra pessoa para ajudar a pegar. Quanto aos carros, foram 90 casos em que os motoristas pararam para deixar o pedestre atravessar em 28 (31,1%) deles.
A diferença entre cidades grandes e pequenas foi praticamente insignificante. Nas situações em que os pesquisadores solicitavam ajuda – seja com a mensagem no para-brisa ou pedido direto com a queda do cartão –, a porcentagem de pessoas se mobilizando foi de 55,3% nas cidades maiores e 49,3% nas menores. Já quando a ajuda não era requisitada, o número caia para 45,6% nas cidades grandes e 39,2% nas pequenas. A diferença, por sua vez, estava mais relacionada à situação socioeconômica dos bairros analisados do que com sua densidade demográfica – ou seja, quanto mais rica era a região, maiores as chances da população ajudar.
A hipótese dos pesquisadores é que pessoas com menos bens têm maior probabilidade de estabelecer relações pontuais, em que a ajuda e a cooperação funcionam fortemente ali, mas apenas entre elas. Por exemplo, um morador de uma cidade com baixo índice socioeconômico é mais propenso a ajudar seu vizinho do que um desconhecido que está passando pela rua.
Elena Zwirner, autora principal do estudo, explicou ao Guardian que “ajudar outra pessoa é inerentemente… um risco, você paga um custo para ajudar alguém e pode ou não obter um retorno sobre o investimento”. Vale lembrar que isso não significa que esse grupo é egoísta ou que nunca irá ajudar, apenas que estatisticamente ocorre uma leve diferença. Fatores como sexo, etnia e sotaque não foram considerados para a elaboração da pesquisa.