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Por que tanta gente está morrendo no Everest?

11 pessoas morreram na escalada do Everest nas duas últimas semanas. Entenda o que está acontecendo no canto mais alto do mundo.

Por Maria Clara Rossini
31 Maio 2019, 17h45

As fotos da imensa fila para subir no pico do Everest viralizaram na última semana. Não é à toa – ninguém imagina que existam tantas pessoas dispostas a enfrentar um dos maiores desafios da natureza. Ar rarefeito, falta de oxigenação no cérebro e extremo esforço físico são apenas alguns dos obstáculos que os alpinistas precisam enfrentar.

Apesar da grande repercussão das fotos, o grande número de mortes recentes por lá não aconteceu devido à fila gigantesca – ou à cultura de selfies radicais que ajuda a alimentar essa fila. O buraco está mais embaixo. Nesta temporada de escalada, iniciada em abril, um grande número de alpinistas inexperientes decidiu enfrentar o desafio.

Para subir o Everest, você pode começar a escalada pelo lado da China ou do Nepal. Os dois países devem conceder uma permissão ao alpinista. Enquanto a China é mais rigorosa e exige atestados de experiências prévias em escaladas, o Nepal pede apenas alguns documentos e comprovação de boa saúde.

Em 2019, o Nepal bateu recorde de permissões para escalada. Foram 381 autorizações ao custo de 11 mil dólares cada uma. Os alpinistas se concentram no período da primavera — abril e maio —, quando as condições estão mais favoráveis.

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Cada vez mais, escalar o Everest é encarado como uma atividade turística. Na última década, surgiram companhias locais nepalesas dispostas a receber uma grana para assumir o risco que é levar pessoas menos experientes na empreitada.

O despreparo de parte dos aventureiros é a grande causa das mortes recentes. O corpo humano tem dificuldades para sobreviver acima da altitude de 2500 metros. A maioria das pessoas começa a sentir cansaço, dor de cabeça e enjoo nessa faixa de altitude. O Everest, por sua vez, possui 8.848 metros de altura.

A situação começa a piorar mesmo quando os alpinistas chegam na “zona da morte”. Ela fica a 8 mil metros do chão. A partir daí, a maioria das pessoas precisa usar tanques de oxigênio para chegar ao topo e deve descer o mais rápido possível para sobreviver. Qualquer impedimento que atrase o trajeto pode ser fatal — seja ele uma tempestade de neve ou uma fila de pessoas.

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Os alpinistas inexperientes levam oxigênio o suficiente para aguentar a subida — mas não a descida. Sem oxigênio, o cérebro fica comprometido, levando o indivíduo a tomar decisões ruins e ter menos coordenação motora. Isso pode levar a um erro fatal, como cair de um morro ou decidir sentar para descansar no meio de uma inclinação. Se o alpinista com pouco oxigênio decidir sentar, pode ser que ele não tenha forças para levantar e morra congelado.

Para piorar, as pessoas nessas situações podem sofrer com edemas cerebrais causados por grandes altitudes. Nesse caso, todos os sintomas da falta de oxigênio são maximizados e a pessoa começa a agir como se estivesse embriagada. Nem é preciso dizer que juntar alguém “bêbado” com um dos lugares mais perigosos do mundo não é uma boa ideia.

Além do cérebro, o ar rarefeito também prejudica o pulmão. Um dos sintomas mais apresentados pelos alpinistas é a “tosse Khumbu”. Ela é causada pela baixa umidade e temperatura, típica dos lugares mais altos da Terra. Ela provoca uma tosse tão forte que pode chegar a fraturar as costelas dos montanhistas. Eles também podem sofrer de edema pulmonar, quando os pulmões estão tão comprimidos e tensos que as paredes capilares começam a vazar e encher os órgãos de líquidos.

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O próximo órgão que mais sofre com os efeitos da altitude é o coração. Quando os alpinistas mais novos morrem repentinamente ou durante o sono, a causa pode ser arritmia. Nos mais velhos, é provável que seja ataque cardíaco. Em lugares como esse, o nosso corpo encontra-se em condições extremas — e pessoas com problemas cardíacos que ainda não foram diagnosticados sofrem um risco a mais.

Apesar das milhares maneiras diferentes de morrer no Everest, é difícil cravar com certeza a causa de cada uma delas. Como é de se esperar, as informações de um dos lugares mais remotos da Terra chegam aos poucos. Na maior parte dos casos, os corpos são deixados no mesmo local em que a pessoa morreu — tanto pela dificuldade de trazê-los de volta quanto pelo significado dado ao local de morte do alpinista. Assim, não há como fazer autópsias ou estudos aprofundados sobre o tema.

As multidões e filas no Everest não são responsáveis diretamente pelas mortes — mas elas definitivamente aumentam os riscos. O uso de técnicas pouco adequadas apresenta perigo tanto para os inexperientes quanto para os veteranos. Elas atrasam o tempo de subida de algumas pessoas e consequentemente todos que estão atrás delas. E no lugar mais extremo do mundo, cada momento é crucial para a sobrevivência.

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