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Uruguai: quais estratégias o país usou para lidar com a pandemia

Mesmo sem lockdown, nosso vizinho tem registrado baixo número de mortes e infectados. Veja as ações do governo para frear o avanço do vírus.

Por Maria Clara Rossini
Atualizado em 7 jul 2020, 18h49 - Publicado em 7 jul 2020, 18h25

Um dos menores países da América Latina chamou a atenção de todo o mundo ultimamente. Os habitantes do Uruguai são os únicos sul-americanos autorizados a viajar para a União Europeia. Não que essa seja uma prioridade no momento, mas a decisão da UE foi simbólica para mostrar que o país está seguindo um bom caminho para controlar a doença.

O Uruguai soma 960 casos confirmados e 29 mortes até o dia 7 de julho, segundo monitoramento da Universidade Johns Hopkins. A população do país é pequena – cerca de 3,5 milhões de habitantes, sendo que quase metade mora na capital Montevidéu –, mas, mesmo assim, ele se destaca nas estatísticas. São 8 mortes para cada milhão de habitantes. Em comparação, são 326 mortes por milhão no Peru; no Chile, 333 por milhão; no Brasil, 308 por milhão.

O primeiro caso no país foi confirmado no dia 13 de março, 16 dias depois do Brasil. Logo após a confirmação, o país fechou as fronteiras, escolas e cancelou os cultos religiosos, shows, festas e outros eventos públicos que gerassem aglomerações. O Uruguai não impôs a quarentena obrigatória, mas incentivou os cidadãos a fazer o auto isolamento se possível. Segundo Giovanni Escalante, representante do país na OMS, “o governo uruguaio não precisou obrigar as pessoas a se isolar – elas fizeram sozinhas”.

Para isso, o governo precisou garantir uma renda mínima para que as pessoas que perderam o emprego ou com redução de salário pudessem optar por se isolar. Isso levou as autoridades a criarem o Fundo Coronavírus, a partir de impostos destinados à segurança pública e do corte de 20% dos salários de políticos.

Segundo um levantamento da consultoria Cifra, que faz pesquisas de opinião pública no Uruguai, 90% da população aderiu à quarentena, mesmo sem ser obrigatória. Segundo as respostas, para a maioria das pessoas, a parte mais difícil foi ficar longe de familiares e amigos, mas existe consenso entre elas e políticos sobre as medidas de enfrentamento ao vírus. Os bons indicadores sociais também contribuíram: 100% do Uruguai possui água encanada, essencial para a higienização contra o vírus.

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Mas essa não foi a única solução. Assim como outros países que obtiveram sucesso, o governo investiu em testes desde o início da pandemia. Foram realizados 166 testes para cada caso confirmado, a maior taxa da América Latina. Assim, foi possível isolar todos que estavam com a Covid-19 e as pessoas para quem possam ter transmitido o vírus. Para dar conta de todos os testes, o país aumentou o número de laboratórios que fazem o diagnóstico de Covid-19 de um para 25.

Outro diferencial foi a criação de um aplicativo para mapear onde as pessoas estiveram e os contatos entre elas. Dependendo dos lugares que o cidadão frequentou (ou com quem ele esteve), os agentes de saúde poderiam requisitar visitas à casa e realizar testes. Isso foi facilitado pelo Sistema de Saúde Universal (equivalente ao SUS no Brasil), que conta com telefone, aplicativo, informações e chat nas redes sociais para tirar dúvidas sobre o que fazer em caso de diagnóstico positivo.

Os shoppings foram fechados, mas comércios de rua, que geram pouca aglomeração, continuaram funcionando. Mesmo assim, alguns comerciantes optaram por não abrir as portas no início da quarentena, pois a maioria das pessoas não estava saindo de casa. 

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O ministro da Saúde uruguaio, Daniel Salinas, relatou em entrevista que as medidas foram tomadas a partir de orientações de médicos, farmacêuticos, matemáticos, engenheiros, epidemiologistas, entre outros cientistas de diferentes áreas – tudo para avaliar quais medidas representariam maior ou menor risco. Segundo Escalante, o país pediu orientações à OMS sobre as melhores práticas a serem seguidas.

As recomendações foram reforçadas pelo governo, principalmente a higienização, distanciamento social e isolamento caso estivesse contaminado – ou tivesse contato com alguém que testou positivo. O próprio presidente, Luis Lacalle Pou, entrou em quarentena após entrar em contato com uma funcionária que contraiu o vírus. No final das contas, ele não havia se contaminado, mas a atitude serviu de exemplo.

Para evitar casos importados dos vizinhos, o Uruguai fechou um acordo com o Brasil para controlar a entrada de brasileiros, principalmente na fronteira com o Rio Grande do Sul. Os brasileiros precisam comprovar residência no país se quiserem atravessar. Para visitantes de outros países, o teste de Covid-19 é obrigatório.

Mesmo assim, o ministro de Saúde é cauteloso ao celebrar os bons resultados. Em entrevista à BBC Brasil, ele afirma que o país está em constante estado de alerta e a situação pode complicar caso haja retomada total das atividades e aumento de circulação do vírus.

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