Advogado do Twitter ameaça Threads com acusação de espionagem corporativa
Representante de Musk acusa Meta de contratar ex-funcionários do Twitter para ter acesso a informações confidenciais e acelerar o desenvolvimento do app.
“Temos sérias preocupações de que a Meta está realizando uma apropriação sistemática, intencional e ilegal dos segredos comerciais e outras propriedades intelectuais do Twitter.”
Assim escreve Alex Spiro, um dos advogados do Twitter, em um email (que teve até versão carta, enviada à maneira old school via Fedex) para Mark Zuckerberg, CEO da Meta.
O capítulo mais recente da troca de farpas entre Musk e Zuck, que já inclui até uma briga de brincadeira com hora marcada, veio à público como resultado de uma apuração do veículo online Semaphor. Eles publicaram a correspondência na íntegra, dê uma olhada. O documento, naturalmente, está em inglês.
Spiro afirma que a Meta, ao longo de 2022, contratou dezenas de ex-funcionários do Twitter, e que muitas dessas pessoas tinham (ou ainda tem) acesso a documentos ou equipamentos da empresa. Ele também insinua que tais contratações foram feitas com o intuito de desenvolver, o mais rápido possível, o app Threads. A carta, em suma, é uma acusação de espionagem corporativa.
O advogado também requisita que Zuckerberg preserve todos os documentos relacionados à contratação de ex-funcionários do Twitter pela Meta, bem como quaisquer conversas que tenham acontecido entre essas pessoas e funcionários da Meta antes ou depois das contratações. Queima de arquivo, a gente vê por aqui.
O Twitter já se manifestou ao Semaphor, afirmando que não há ex-empregados de Musk na equipe que desenvolveu o Threads, e que as insinuações da carta não tem qualquer embasamento. Por ora, não há provas a favor de qualquer uma das versões da história, ainda que, de fato, a Meta tenha absorvido parte da mão de obra demitida por Musk no ano passado.
A carta mostra que o Twitter leva a ameaça a sério, e o Threads já é o app baixado mais rápido na história da internet: 30 milhões de downloads em 24 horas. A integração total ao Instagram, claro, é uma vantagem em relação a concorrentes que precisam construir o próprio nome do zero. Mas o fracasso do hoje folclórico Google+ prova que a grife de big tech não é garantia de adoção pelos usuários.
Lembra do Koo? A versão Shopee do Twitter era uma cópia tão descarada do original que até o nome, barreira linguística à parte, era o mesmo: koo é uma onomatopeia para o barulhinho que o pássaro amarelo do logo faz, exatamente como piu em português e tweet em inglês.
O app, popular na Índia desde seu lançamento em 2019, adquiriu um milhão de usuários no Brasil em 2022 – hoje, nossa população é o segundo maior grupo de usuários cadastrados na plataforma, atrás apenas dos próprios indianos. Felipe Neto, Casimiro e Bruno Gagliasso fizeram perfis lá.
O surto de popularidade foi crédito duplo de Elon Musk e da língua portuguesa. Quando o candidato a marciano comprou o Twitter (e começou a sucatear o pássaro azul), os brasileiros ficaram em polvorosa atrás de uma alternativa. E o app de nome tão – digamos, glúteo, rs – viralizou com a enxurrada de piadinhas de tiozão.
Em questão de meses, porém, os primeiros ocupantes do Koo se esqueceram de seus perfis por lá: a comodidade de clicar no passarinho azul em vez amarelo falou mais alto, e continuamos tuitando apesar da volta do perfil de Trump, dos verificados pagos, das demissões em massa…
A Meta é notavelmente boa em copiar e vender criações alheias. Os Stories são uma versão genérica do Snapchat que sobrevive sem ajuda de aparelhos, ainda que o próprio Snapchat jamais tenha explodido no Brasil. Os Reels, por sua vez, se tornaram o Tik Tok de quem é jovem demais para sobreviver à insalubridade do Tik Tok.
Vejamos quem sai vitorioso do duelo mais recente entre big techs. Seja na esfera legal, seja no coração do público, preso entre o vício no Twitter e a vontade de adeus a Elon.